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Há uma nova “ordem moral” no Benfica?

A pergunta não tem outra resposta possível: não há, não houve, não haverá!

Há, isso sim, Direitos e Deveres dos Sócios do Clube, que assentam em princípios essenciais ao seu desenvolvimento, que inspiraram aqueles que nos fundaram e que inspirarão aqueles que nos seguirem.

Quando aqui escrevi sobre a “Paz Benfiquista”, há alguns meses, sentia-se um clima de balcanização do Clube, que se adensou e que tornou, para muitos daqueles com quem tenho falado, o ar irrespirável.

Esse estado a que chegámos tem como responsáveis “todos os sócios do Sport Lisboa e Benfica”, na medida em que o Clube é, em todo e qualquer momento, a síntese (“do todo”) da sua massa associativa.

O meu Pai, talvez por se ter dedicado mais às Leis que aos números, mas não só por isso, ensinou-me uma das mais importantes lições da vida e que repetirei sempre que necessário: “rapaz, o maior activo do Benfica é sempre e em cada momento a massa associativa.”

Ao referir “massa associativa” e não “os sócios”, o Mestre, que nos deixou há poucos dias, sabia bem o que queria dizer: vivera o Benfica do reviralho com o seu patrono, Ruy de Sousa, em tertúlias com o Capitão Júlio Ribeiro da Costa. Mas ainda aí, ainda aí, o respeito pelos sócios era pelo seu todo, independentemente das suas opções: o Benfica consolidava-se como um todo, com um lema universal, “E Pluribus Unum”!

Não é, caros leitores, o que assistimos nos dias de hoje, em que de todos os lados, neste ambiente de guerra civil em que vivemos, se assiste à imposição de uma “nova moral Benfiquista”, surgindo-nos, diariamente, no espaço mediático e, ou, virtual, pastores visionários, que, de cajado na mão e apoiados em novos discípulos, proclamam “os comportamentos certos”, a que todos estamos “eticamente adstritos.”

Tenho contacto diário, como muitos de vós, com centenas de Benfiquistas, quer por via das redes sociais, quer por via de fóruns em plataformas de comunicação. Aí, assistimos a verdadeiros combates de boxe, com palavras cruzadas e relações de amizades cortadas por ofensas momentâneas. Assistimos, por lamentável que possa parecer, a críticas permanentes, de parte a parte, com sectarismos protegidos em trincheiras. Assistimos, é preciso dizê-lo, à fragmentação de um Clube que só vence se for “um todo.”

Porque conheço sócios, entre eles muitos amigos, que apoiaram as diversas listas que se candidataram em outubro passado, com maior ou menor fervor, e outros que se abstiveram, votaram em branco, ou nulo, sei que este ambiente se está a tornar, para quase todos, insustentável, sendo necessário um grito de alerta, um grito de reunião.

No fundo, a ideia que há sócios (moralmente) mais idóneos que outros, porque apoiaram este ou aquele candidato, porque em cada momento defendem este ou aquele caminho, é a ideia menos Benfiquista que se pode ter. É, no fundo, a antítese dos ideais que presidiram à nossa Fundação e, sobretudo, é a maior afronta que se pode fazer ao futuro do nosso Clube.

O Sport Lisboa e Benfica não precisará, ainda, de Estados Gerais; mas precisa de reflectir sobre o caminho que trilhará.

Essa reflexão só pode ser feita pela tal “massa associativa” e não por iluminados que se reúnam em embaixadas secretas. Daí a necessidade de reunirmos na casa-mãe da nossa democracia: em Assembleia-Geral, de acordo com os Estatutos do Clube.

Não para nos afrontarmos ou digladiarmos, mas sim para escrevermos o guião do nosso futuro, o futuro do Clube dos nossos netos.

Viva o Sport Lisboa e Benfica!


▶ Texto enviado pelo benfiquista José Pereira da Costa, sócio n.º 13520


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