Há uns dias percebi que a Godzilla não gosta de matemática e, segundo parece, é tudo uma questão de tamanho.
Nisto do tamanho, também nós começamos a formular uma teoria – o Sport Lisboa e Benfica é demasiado grande, tem demasiada gente, é um gigante com todos os problemas que isso coloca.
Hoje permiti-me refletir sobre isto.
Querem embarcar comigo nesta viagem?
Apesar de Portugal não ser um país amigo da ferrovia, viagem comigo nesta metáfora – o Sport Lisboa e Benfica é um comboio, qual snowpiercer.
Nesta série, depois do planeta ter ficado tempo a mais no congelador, a humanidade remetida a um comboio gigante, anda às voltas numa viagem mais ou menos circular e infinita.
Ora, sinto que o Sport Lisboa e Benfica também está a andar em círculos, voltando sempre aos trilhos que nos trouxeram problemas, como se ir a Ho Chi Minh fosse uma peregrinação obrigatória para a mais brilhante das ideias. Diz-se que a maior viagem de comboio do mundo começa na Luz e termina onde os americanos passaram uns verões complicados.
Vejamos.
A carruagem da frente é o Povo do Benfica!
Aquele que nunca falha!
Mas, aos comandos do comboio vai um maquinista, que sendo do Povo Vermelho, parece ter perdido a capacidade de ver para lá do óbvio.
Na carruagem seguinte, o motor – a equipa de futebol.
As carruagens que se seguem recebem todas as nossas equipas, das diferentes modalidades, nos diversos escalões. Centenas de jovens, de homens e de mulheres que semanalmente vestem o Manto Sagrado.
E algures perdidos no fim do comboio, os Ases que nos honraram!
São 19h04 e o comboio partiu com destino à Europa e ao mundo, das provas europeias aos jogos no Japão que nos trouxeram a vénia, a África que nos brindou com Eusébio e Coluna ou até à América do Sul e a história que fomos desenhando com o Santos. Isto para me focar no motor da nossa composição – a equipa de futebol.
Mas, a vertigem do fim do século vinte, depois de mais duas finais dos campeões perdidas, fez-nos entrar em trilhos que teimam em nos levar até Ho Chi Minh (ainda não foram googlar este nome?).
O povo, esse, continua a puxar um enorme comboio de desilusões que persiste em viajar por onde não deve. Mas, é mesmo aqui que reside o nosso problema. O nosso maior potencial – a nossa dimensão gigantesca e planetária – é também a nossa maior fraqueza.
A agitação em torno do Sport Lisboa e Benfica é permanente, a comunicação social alimenta-se da polémica em torno do vermelho. O regresso de um Renato é o retorno das lesões, a norte a vinda do Fábio é o voltar a casa de um campeão. Os sucessivos falhanços verdes na compra de um avançado são vendidos como uma brilhante capacidade do Sporting em gerir o mercado. Vamos à Champions e ao Mundial de clubes, mas apesar disso, quem vive o Sport Lisboa e Benfica todos os dias vive em depressão permanente – “mas, não temos um dia de descanso?”, talvez o post mais lido no X vermelho.
Como bem diz o Aires – diversidade!
A palavra que nos define.
Ora, perante isto, como se gere esta diversidade?
Penso que a resposta é liderança.
E esta tem duas formas de chegar:
- por via da evolução capitalista que tem marcado o futebol, isto é, a entrada de capital estrangeiro que venha definir um rumo, um caminho e que trilhos o comboio vermelho irá seguir. Os passageiros que quiserem, sentam-se no seu lugar e apreciam a viagem. É o Benfica empresa.
- por via de uma liderança carismática que seja capaz de congregar uma visão para o Benfica. Um rumo de futuro, mas que honre os ases que nos honraram no passado. Creio que a chave poderá passar por aqui. Rui Costa pareceu ensaiar esse caminho colocando junta a si no camarote craques do passado, mas não desistiu de colocar a sua imagem em tudo o que é “coiso”. A referência ao Rui na despedida do Mister Eriksson foi ridícula.
Não sei se fica clara a ideia, mas será algo como isto, uma liderança virada para o futuro e que seja capaz de gerir vitórias em campo, nos pavilhões, nas pistas e nas piscinas. Mas, que seja igualmente competente a incluir no processo as memórias que unem os adeptos, seria esta a cola que nos tornaria parte do processo. Claro que gosto mais de ser sócio do que cliente, mas até o sou se vir o sr. Shéu ou o Vitor Paneira por perto. Quem deixaria de ficar feliz por ver publicações, programas, acontecimentos sobre o Manuel Bento ou sobre José Águas? E tantos outros...
Lido com naturalidade com o DJ Kamala, mas gosto mais das gargantas do povo que encheu Moreira de Cónegos. Há espaço para todos e foi sempre essa a nossa marca – capazes de inovar, sem esquecer o nosso passado.
Procurar fazer luz sobre o que nos une, procurando não valorizar o que nos separa.
Podemos não saber para onde se dirige o comboio vermelho, mas sabemos que nas carruagens mais importantes vão os Benfiquistas e todos os homens e todas as mulheres que nos fizeram chorar de alegria.
Ainda não sei em que estações vamos parar, mas continuo a acreditar que a diversidade das nossas composições é a nossa maior riqueza porque “Não há pai para o Benfica”.
NOTA: parabéns ao Maior!
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