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Foto do escritorNuno Picado

Eleições antecipadas no Benfica

Atualizado: 16 de set.

Aqui está um tema que reaparece sempre que o Benfica tem um insucesso desportivo ou é (re)publicada uma notícia polémica. Antes de abordar este assunto, um pequeno contexto histórico que nos vai ajudar a analisar este cenário.

benfiquistas aguardam para votar

Tenho memória de 5 situações recentes em que foram convocadas eleições antes do final dos mandatos (certamente existirão mais na história centenária do clube):

  • Jorge de Brito demite-se em Dezembro de 93 na sequência do Verão quente e das dificuldades financeiras do clube.

  • Manuel Damásio cumpriu 2 mandatos no tempo de 1 devido à falta de resultados desportivos. Convocou eleições em 96, nas quais derrotou Vale e Azevedo, e depois novamente em 97 após demissão, mas aqui já não se recandidatou e Vale e Azevedo foi eleito vencendo Luís Tadeu por margem mínima.

  • Vieira provocou a demissão em bloco dos órgão sociais em Junho de 2009 para encurtar o tempo de preparação a José Veiga que preparava uma candidatura em Outubro do mesmo ano.

  • Tivemos eleições antecipadas em Outubro de 2021 na sequência da detenção e renúncia de Vieira.


O que aprendemos com todas estas situações?

Obviamente todas elas surgem de situações de instabilidade diretiva ou desportiva, mas os motivos podem ser diferentes. Pode ser uma medida estratégica para reafirmar a liderança e eliminar contestação (Vieira e Damásio). Acontecem também em situações em que a direção vigente se encontra altamente pressionada e sem condições para se manter em funções devido à pressão dos sócios (Jorge de Brito e Damásio) ou ainda por situações imprevistas e impensáveis como problemas com a justiça ou mesmo a morte (Vieira foi detido em 2021 e o Brigadeiro João Tamagnini Barbosa faleceu em funções em 1948).

Resumindo, temos então 3 cenários para a convocação de eleições antecipadas: estratégia, instabilidade diretiva/desportiva e situações de força maior.


A situação atual

É um facto que a direção de Rui Costa tem tido um mandato instável. De 2021 para cá o Benfica foi campeão em 22/23 e venceu a supertaça 23/24, francamente pouco para um clube deste calibre. Em termos diretivos a coisa também não tem sido fácil com várias saídas que deixaram marca, Luís Mendes à cabeça. A situação financeira do clube também dá sinais de alguma fragilidade, apesar das crónicas vendas dos nossos melhores atletas, e a pressão e insatisfação dos sócios tem subido de tom e sente-se em todos os jogos e assembleias, o que torna a situação cada vez mais difícil de gerir.


Então neste contexto o cenário de eleições antecipadas no Benfica seria positivo, certo?

Não necessariamente. Se me disserem que Rui Costa antecipa as eleições e não se recandidata… então sim, nesse caso teremos forçosamente uma mudança. Mas, sejamos francos, este é um cenário altamente improvável por tudo aquilo que temos visto.


É preciso entender que historicamente praticamente todos os Presidentes do Benfica desde 1964 venceram as eleições após um primeiro mandato, a única excepção foi Vale e Azevedo em 2000 que perdeu para Manuel Vilarinho após um período de 3 anos de caos absoluto. Todos os outros Presidentes que se recandidataram para um segundo mandato venceram, fosse qual fosse o contexto geral do clube. Rui Costa vai para um segundo mandato, existe contestação mas pouco organizada e o seu nome continua a ter um enorme peso junto dos benfiquistas… bem, já perceberam onde quero chegar.

É fundamental que todos os que se opõem a esta direção tenham perfeita noção do caminho tremendamente difícil que espera qualquer adversário eleitoral do atual Presidente. Será necessário um grande trabalho de sensibilização para demonstrar que existe um caminho alternativo ao que temos percorrido nos últimos 21 anos, mas isso demora tempo. E esse tempo existe até Outubro de 2025, mas não se for encurtado significativamente. Por este motivo, é um enorme tiro no pé ver aqueles que clamam por mudança exigirem eleições antecipadas. Este cenário apenas beneficiaria a atual direção, que tem ao seu dispor uma máquina de propaganda muito eficaz, e iria reduzir dramaticamente o período de preparação e sensibilização que é necessário para que a tal mudança aconteça, tal como em 2009 com Vieira e José Veiga. Não que este fosse uma boa alternativa, mas entendem onde quero chegar. É olhar para o resultado prático.


Vamos então acalmar, respirar fundo, tocar a relva. Ninguém gosta de ver o Benfica neste ciclo negativo, mas é preciso continuar a debater o nosso clube de forma responsável e inteligente, apresentando factos e caminhos alternativos com cabeça e estratégia. Faixas insultuosas penduradas num viaduto não resolvem nada, lamento. Aliás, não só não resolvem como têm um efeito contrário ao pretendido no benfiquista comum, aquele que não se encontra numa trincheira e só quer ver a sua equipa ganhar. E estes também votam e são decisivos.


A mudança que tanto desejamos não se dá de hoje para amanhã, leva tempo e é preciso paciência. Saibamos lutar por aquilo que tanto desejamos de forma responsável. Até lá, mãos à obra, foco e militância benfiquista!

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