Calma, o Benfica não é meu, nem teu, nem do Presidente. O que vou partilhar de seguida é apenas a minha visão sobre o Benfica que idealizo, não uma verdade absoluta. Se concordares, muito bem, senão… tudo bem na mesma, cada um vive o Benfica à sua maneira.
Antes de mais partilho uma ideia que tenho confidenciado exclusivamente em círculos muito próximos: sinto que este não é o meu Benfica. Dou por mim a não concordar com quase nada do que se faz e isto não era suposto ser assim. Num universo tão grande de sócios e adeptos é certo e sabido que é quase impossível estarmos todos de acordo sobre determinados assuntos, mas nos últimos tempos dou por mim a não gostar do que vejo.
Não gosto dos equipamentos modernaços que não respeitam as nossas cores e a nossa história
Não gosto que o projecto imobiliário venha sempre primeiro que o desportivo
Não gosto da falta de ambição europeia
Não gosto que tratem os sócios como mercadoria
Não gosto que nos mantenham sempre à distância dos jogadores, com o cúmulo de se fazer uma despedida do jogador com mais títulos de estádio vazio
Não gosto da violência verbal (e física) que tenho visto nas assembleias
Não gosto das negociatas com os parceiros estratégicos
Não gosto da falta de transparência e de OPAs mal amanhadas
Não gosto dos esquemas com gente que nunca devia ter entrado no clube
Não gosto do ambiente do estádio e do speaker, um ex-Juve Leo
Não gosto da BTV, que se demite de servir os interesses do clube nas eleições
Não gosto da falta de democracia e de um regime totalitário que confunde o Presidente com o clube
Não gosto, nem perdoo, que tenham envolvido o Benfica em N casos judiciais que deixam uma mancha para sempre
Não gosto que paguem casamentos, festarolas ou favores com dinheiro do clube
Idealizo um Benfica próximo dos seus adeptos, que lhes reconhece valor e os coloca no centro de todas as decisões. Ambiciono um Benfica com equipas com tomates de aço e que assuma em campo a ambição dos seus adeptos, seja em que modalidade for. Sonho com um Estádio da Luz com um ambiente de verdadeiro inferno, admirado por adeptos de outros clubes e temido pelos rivais. Quero um Benfica que não prometa títulos europeus apenas para ganhar simpatia junto dos sócios, mas que demonstre coragem e ambição de os conquistar e que esteja em posição de aproveitar um ano atípico nas grandes competições europeias. Desejo um Benfica popular que tenha tempo e espaço para todos e não apenas para os que podem pagar experiências premium.
Infelizmente hoje fico com a sensação que não conto para nada, que me roubaram o meu Benfica. O Benfica que o meu pai e avô me apresentaram quando era miúdo. Um clube orgulhoso do seu passado que, infelizmente, não se soube renovar a tempo e que, por isso, traumatizou uma geração inteira de jovens que viam uma miragem do Grande Benfica em campo e não entendiam porquê. Esse trauma, ferida profunda e inesquecível, ainda se mantém nos dias de hoje e o medo do regresso deste tempo negro e triste é usado como arma para garantir que as coisas não mudam. As pedras da calçada, a "refundação do Benfica", o medo de um futuro incerto nas mãos de um qualquer Vale e Azevedo, como se todos os benfiquistas aptos a assumir a Presidência fossem potenciais ladrões e oportunistas… excepto Luís Filipe Vieira.
E sim, eu sei que o Benfica é hoje um clube que deu um salto qualitativo enorme, que tem infra-estruturas de fazer inveja, uma academia de formação excelente, contas consolidadas, etc, etc. Tudo isso é verdade e estou grato pelo trabalho que foi feito, mas algures pelo caminho dos últimos 17 anos o clube perdeu o rumo e transformou-se numa empresa cujo objectivo principal é aumentar receitas e fazer obra, em vez de ganhar troféus.
Fico também pasmado por verificar que aqueles que mais se revoltam com este estado de coisas sejam os mais jovens, os que cresceram com o Benfiquinha e que, por isso, deveriam estar maravilhados com o que temos actualmente. Mas não estamos, queremos muito mais! Os mais velhos, que viram o Benfica em finais europeias inúmeras vezes e que rejeitavam presidentes que “apenas” conseguiam sucesso interno, como Fernando Martins, são os que estão mais satisfeitos com um clube que abdica da hipótese de conquistar um histórico penta por arrogância e perde 2 campeonatos para um Porto moribundo. Isto deixa-me pasmado, admito. Só uma lavagem cerebral de proporções épicas, baseada na teoria das pedras da calçada, mantém os nossos camaradas benfiquistas amarrados a um futuro que nunca vem. Sabem aquele Benfica do tamanho do mundo que nos prometem há quase duas décadas? Esqueçam, com esta equipa directiva não vai acontecer.
Então de que têm medo?
Temos oportunidade de dar um passo em frente e escolher uma nova liderança que reconhece tudo aquilo que foi bem feito nestes anos, acrescenta ambição, uma cara lavada e traz mais Benfica para dentro do clube… e não aproveitamos? Desconfiamos de benfiquistas de berço com um percurso profissional inatacável e uma equipa composta por benfiquistas de longa data com provas dadas? Não faz sentido.
Aos indecisos apelo: não tenham medo, permitam que LFV seja lembrado como o homem que ajudou a recuperar o clube e saibamos dar um passo em frente.
Amanhã votarei João Noronha Lopes.
Viva o Benfica!
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