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Foto do escritorFrancisco Domingues

Sporting x Benfica: O regresso de Rafa a decidir o dérbi

Dia de dérbi. Um dia diferente dos outros todos. A noite nunca é fácil. Adormecer a pensar quem serão os marcadores, se jogará X ou Y e se ganharemos. Acordamos com um sorriso nervoso na cara, um sorriso de quem, apesar de estar confiante, teme que a confiança não chegue. Porque um dérbi é um jogo cujo resultado, assim como a figura do jogo, é muito difícil de prever. É um dia em que o comum mortal tem a possibilidade de perceber qual o assunto da conversa dos outros, pois o assunto é sempre o mesmo neste dia, o jogo.


A prenda de natal, apesar de atrasada, havia chegado uns minutos antes do jogo começar. Rúben Amorim, treinador do Braga, não quis pôr o coração de parte, vestiu o fato de Pai Natal e deu a oportunidade ao Benfica de se distanciar do Porto por 7 pontos. O Benfica, claro, quis homenagear e deixou as decisões para um antigo jogador do Braga.



O Benfica foi a jogo com 2500 guerreiros na bancada e 11 gladiadores em campo. Bruno Lage não quis arriscar, colocando André Almeida por Tomás Tavares e Gabriel com Weigl no meio-campo. No banco começavam aqueles que para muitos são dois dos melhores jogadores da liga, Rafa e Taarabt. Os adeptos encaravam o jogo com um misto de confiança e de receio. Por um lado, confiança pois o Benfica não perdia em Alvalade desde 2012, o momento do Sporting não era o melhor e o último confronto havia tido como resultado 5-0 para o Benfica. Por outro lado, receio do excesso de confiança visto que da última vez que o Benfica foi para um jogo grande com esta confiança acabou por perdê-lo. Sobre o Sporting, é sem pena nenhuma minha, que vejo o clube nestas condições, sem adeptos, sem jogadores e, como é hábito, sem títulos. Alinhou com 11 jogadores e um meio-campo que nos fez pensar que qualquer um dos nossos médios, até os que têm tempo de jogo reduzido, tinham lugar claro no onze deles.



O jogo começou muito bem para o campeão nacional. O plano de jogo estava bem estudado, pressão alta no ataque, obrigar o Sporting a sair a jogar pelo Doumbia, este último era a referência de pressão devido aos tijolos que possui e tentar roubar-lhe a bola para um ataque desiquilibrado em termos defensivos. Com bola, tentar chegar à área através de sobreposições ou de iniciativas de Pizzi ou Cervi de fora para dentro. Apesar de termos tido sucesso, não foi possível chegar ao golo. O Sporting arriscava em transições ofensivas rápidas, com passes longos, tentando ganhar as costas dos defesas através da velocidade. Basicamente, o que nós benfiquistas chamávamos "bater o bombo" com Rui Vitória. Na primeira parte, apesar de o Sporting ter tido a melhor oportunidade, numa bola ao ferro após erro de Ferro, o Benfica foi, no fim de contas, superior ao rival, criando mais oportunidades.



A segunda parte foi diferente, nos primeiros 10 minutos, os bombeiros de Alvalade a demonstrarem experiência ao conseguirem retirar as tochas atiradas pelos próprios adeptos, do relvado. Talvez tenha sido este o período do jogo do qual Silas falava, quando disse que o Sporting foi muito superior ao Benfica na segunda parte. As primeiras duas oportunidades foram do Sporting, numa altura do jogo muito física e pouco técnica. Aos 74 minutos, entrou o verdadeiro bombeiro, desta vez do lado benfiquista. Rafael Alexandre Silva. O regresso, depois da lesão a 23 de outubro."E como jogas, Rafael Alexandre" citando um jogador que a esta hora continua a levar baile do Gabriel. Que qualidade. Aos 80 minutos, numa jogada de insistência de Vinícius que conta com mais assistências em 2020 que Messi, Ronaldo, De Bruyne e Maradona juntos, um passe chega a Rafa que atira a contar, para um golo épico, daqueles que circulará nas redes sociais com a música de fundo do Titanic. Rafa mostrou que, mesmo que Bruno Fernandes saia do rival, o melhor jogador do campeonato não vai sair de Portugal. O árbitro deu, e bem, 10 minutos de desconto, numa tentativa de "Até o Sporting marcar" que se transformou em "Obrigado Ilori, mais um golo do Rafa". Aos 90+9, a passe do recém-entrado Seferovic, Rafa, de trivela, como já havia assistido Salvio contra o mesmo adversário em 2016, a bisar e a acabar com o jogo. Para os mais desatentos, Rafa veste o número 27, o primeiro dígito é o 2, um claro indício de que ia marcar 2 golos. O segundo dígito é o 7, um incontestável indicador de que o Porto ia ficar a 7 pontos.



O Benfica conta agora com mais vitórias do que o Sporting no duelo em Alvalade. É importante perceber isto e relembrar esta estatística pois quem é capaz de ter uma faixa no estádio com um campeonato que não venceu, também pode aldrabar isto. Consumado o resultado e os 7 pontos de vantagem para o Porto, o Benfica está muito bem encaminhado para o Bicampeonato. Mas que não se festeje já, jogo a jogo, gerir a vantagem. Com humildade, à Benfica.



Notas de jogadores:


Odysseas: 8

Muito seguro, como tem sido habitual. Defendeu o que teve de defender. Jogo de pés de excelência.


André Almeida: 6

Não comprometeu mas não pareceu muito seguro. Continuo a preferir Tomás Tavares e espero que este jogo vos tenha esclarecido o porquê.


Rúben: 7

Rúben Dias parece um central feito para jogos grandes. É o líder da equipa e tem-no demonstrado bem. Esteve muito bem.


Ferro: 6

Não achei que tivesse feito mau jogo mas cometeu um erro, tal como nos últimos jogos. As exibições não têm sido más mas o erros têm sido crassos. Que volte à exibições imperiais.


Grimaldo: 5

Como já devem ter percebido, não sou grande fã do Grimaldo. Nestes jogos de maior exigência, a sua debilidade a defender é notória. Rafael Camacho foi o elemento mais periogoso do Sporting e não foi por acaso. Tem de evoluir muito.


Weigl: 7

Nota-se que ainda não está totalmente entrosado na equipa a nível ofensivo mas é muito importante na construção e a defender. Tem melhorado a cada jogo. Tem lugar no onze.


Gabriel: 6

Primeira parte sem critério no passe, tal como nos jogos anteriores. Tem parecido algo displicente e lento na execução. Na segunda parte melhorou muito, principalmente a nível defensivo e fez dançar Bruno Fernandes. Tem de ter cuidado, o último a ter feito isso já foi vendido.


Cervi: 6

Jogo esforçado, ajudou Grimaldo a defender e criou alguns lances ofensivos na primeira parte. Na segunda parte acabou por desaparecer.


Pizzi: 5

Criou uma oportunidade perigosa na primeira parte e esteve desaparecido do jogo. Nos últimos jogos o seu rendimento tem vindo a cair.


Chiquinho: 5

Fez um jogo pouco conseguido, não merecendo o aumentativo Chicão. Continua com o síndrome de Rafa 2017, de não conseguir marcar golos.


Vinícius: 7

Lutou muito. O primeiro golo chegou graças a ele, numa jogada de luta. Não marcou nos últimos 3 jogos mas contabilizou 4 assistências. Gosto muito.


Rafa: 10

Entrou aos 74 minutos e fez uma exibição perfeita. Este jogo ficará relembrado como o jogo de Rafa. Que monstro. É o melhor jogador da nossa liga e demonstrou-o. 2 remates, 2 golos, que eficácia. Há uns anos parecia impossível dizer isto. O herói.

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