O termo "hermética" muitas vezes refere-se à tradição esotérica conhecida como hermetismo, que remonta ao antigo Egito e é associada à personagem mitológica Hermes Trismegisto. O hermetismo envolve ensinamentos filosóficos, espirituais e místicos que exploram a natureza da realidade. Num sentido mais literal, "hermético" pode-se referir a algo que é completamente fechado e impermeável.
É esse o maior dos pecados de Roger Schmidt esta temporada. O timoneiro alemão tem vivido uma realidade que só ele experiência, só ele conhece e só ele vivencia.
O treinador benfiquista viveu toda a temporada amarrado ao passado de glória no comando do clube. Não passou assim tanto tempo desde a última vez que falou das virtudes que Gonçalo Ramos e Enzo traziam ao seu hermético modelo de jogo.
E como todo aquilo que é demasiado hermético é pouco progressista, esse hermetismo do alemão foi o casamento perfeito com um mar de equívocos que foram as escolhas para esta temporada. Jurásek foi uma teimosia do treinador, de perfil diametralmente oposto a Grimaldo. Kokçu foi uma aposta forte que cedo se percebeu que no jogo sem bola estava muito longe daquilo que Enzo dava à equipa. E Casper, como ontem se viu frente ao Marselha, a única coisa em que se aproxima de Gonçalo Ramos é na forma como corre sem bola. Com ela, o dinamarquês estraga a maior parte das jogadas, em razão das suas gritantes deficiências técnicas com a bola nos pés.
O hermetismo de Roger Schmidt ao mesmo tempo que valoriza o jogo sem bola do seu elemento mais avançado, é o mesmo que deixa no banco um lateral esquerdo com um perfil mais próximo daquele que Grimaldo tem - Carreras - para manter refém da lateral esquerda o elemento que o ano passado foi o mais diferenciador no jogo sem bola, jogando a médio, Aursens.
Esta é a hermética amálgama de equívocos que tem a sua suprema manifestação na falta de adesão entre ideia de jogo e realidade.
Olhar para o elemento mais perto da baliza adversária e sobrevalorizar a ideia de este ser o primeiro defesa e não o último avançado, sendo que ele faz parte de uma equipa que se propõe a ser dominadora a maior parte do tempo e que, por isso mesmo, passa mais tempo com a bola do que sem ela, é ser mais do que hermético, é ser fundamentalista.
Roger Schmidt, de mãos dadas à sua hermética, preparou, interpretou e tem reagido à realidade de uma forma a que não muitos para além de si são capazes de compreender.
Isto é o Benfica, senhor Schmidt!
▶ Texto enviado pelo benfiquista Gonçalo Mendes.
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