"Primeiro estranha-se, depois entranha-se", diziam eles.
A verdade é que duas épocas volvidas de VAR a entrar pela nossa casa dentro todos os jogos, têm-se tornado cada vez mais penoso e triste assistir a um jogo de futebol com VAR. Mas não era para ter sido assim...
Ver aquilo que há de mais bonito no futebol, o golo, ser constantemente condicionado e alterado pelo VAR tem tornado esta coisa de ser adepto de futebol numa coisa triste.
Perdoem-me o desabafo, mas eu cresci a ir ver os jogos desde o escalão a nível distrital, até aos jogos de classe europeia (assim o Benfica permitia...), desde jogos de miúdos a jogos de homens com barba rija. Sempre houve erros, muitos deles grosseiros, sempre houve "equívocos", sempre houve contestação, sempre houve dúvida... Essa era um pouco a magia em torno do que se passava naquele rectângulo verde que nos prende a atenção. Quem não se lembra do remate do Petit tirado de dentro da baliza pelo Baía? Quem não se lembra do fora-de-jogo do Maicon que dá a vitória ao FC Porto em mais um clássico do Clássico? Infelizmente conseguiria estar aqui toda a tarde a enumerar casos e casos e casos de lances que se passaram há 15, 10, 5 anos...
Perguntem a qualquer um adepto de futebol que aposto que vos dizem logo de caras uma mão cheia de casos que os marcaram na sua vida futebolística.
Fez parte.
Marcou, deixou-nos completamente de mãos na cabeça, incrédulos como ninguém teria visto tremenda falta, tremendo fora-de-jogo. Mas fez parte. A juntar a isto consigo lembrar-me de exibições épicas, de jogos de cortar os pulsos, de desilusões e alegrias. E sabem de que me lembro mais? De festejar e gritar GOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO sem que não tivesse um diabinho em forma de VAR no meu ouvido a condicionar aquele momento para sempre.
Hoje em dia estás no estádio e já nem te é permitido celebrar O Golo, já não te é permitido gritar a plenos pulmões, a sentires toda aquela vibração correr-te nas veias a sentir que o teu coração poderia explodir naquele momento... Não. Levantas, gritas timidamente e pensas "Será que vão descobrir uma falta no meio-campo?", olhas e vês 22 pessoas paradas, especadas, de mãos na anca ou braços cruzados...À espera. À espera da validação ou não. E depois não vais conseguir celebrar da mesma maneira, não é genuíno, não é puro.
O VAR precisa ser revisto ou arrisca-se a matar por completo o futebol, aquele jogo que nos fez colar aos resumos semanais, ou aos jogos, ou aos relatos. Vês-te privado de tudo isto porque a linha detecta que o jogador X tem a unha mais comprida e estava 1cm fora-de-jogo. Vês-te privado de uma das coisas mais bonitas que há no mundo porque alguém, numa sala, alheado do mundo, descobre uma faltinha.
Não é justo para nós adeptos que amamos o jogo.
Não é justo estar dependente de uma máquina que tanta verdade quer pôr no jogo, que de igual maneira nos tira o prazer de ir à bola, de tirarmos 90 minutos longe de tudo e dos problemas da vida só para ver a nossa equipa jogar na esperança de num grito de GOLO deixarmos ir toda a raiva e revolta e preocupações acumuladas.
Como nos podem privar de sentir o futebol?
O erro sempre fez parte do jogo.
Não me interpretem mal, eu não quero que o futebol fique parado no tempo, há sempre espaço para evoluir. Tecnologia como o "olho de falcão" em que comunica de imediato ao árbitro se a bola entrou ou não, excelente. Mas é necessário regulamentar melhor o uso do VAR, para evitar abusos futuros e uma dependência do VAR na busca da perfeição.
O Futebol não é perfeito e essa era a magia dentro das quatro linhas.
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