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Benfica, o que queres ser quando fores grande (novamente)?



Tenho uma relação amor-ódio com o Vietname Benfiquista.

Por um lado é evidente que será sempre forçosamente recordada como uma das épocas mais negras na nossa história, se não a mais negra.

Por outro, incrivelmente é das épocas das quais guardo mais carinho e saudades, já que foi quando comecei a ter autonomia para frequentar a Luz e dedicar uma atenção mais associativa ao nosso Sport Lisboa e Benfica.

De todas as camisolas que tenho em casa, as únicas expostas são as camisolas da Telecel/Netc e emociono-me quando penso nas tardes que vivi naquele Estádio, ao perceber fora do contexto dos relatos da TSF o que era e a magnitude que representava ser adepto do Sport Lisboa e Benfica.

Vivíamos atordoados ainda pelo rumo recente que o clube começava a seguir, apesar dos variadíssimos sinais que assim o indicavam já no início dos anos 90, e estávamos sempre plenamente convencidos que na época seguinte haveria um reset emocional e tudo seria como dantes. Este sentimento acompanhou-nos todas as épocas sem excepção, inclusive depois do famoso 6º lugar. "Para o ano é que é!", dizia-se. E se tivesse sido, tudo teria

sido perdoado. Seríamos enormes de novo!

Viviamos iludidos, afinal em tempos não muito longínquos o Sport Lisboa e Benfica tinha tido equipas de futebol que podiam, com algo mais de sorte, ter tido uma carreira distinta na Europa, e o regresso dos êxitos seguramente estaria ali ao virar da esquina.

Sonhávamos com os troféus que iríamos conquistar quando chegassem as remessas de dinheiro enviadas pelos sócios residentes nos U.S.A. e com os craques que aterravam na Portela, com as promessas dos Presidentes e dos candidatos a Presidente. Caniggia, Paulo Nunes, Amaral, Gamarra, fora os outros que frequentemente apareciam na capa da Bola estando "Na rota da Luz". Não havia outras fontes de informação, agarrávamo-nos aquilo.

Lembro-me um dia de aproveitar o intervalo de um jogo de rua, daqueles que duravam 5 horas, para lanchar enquanto via as ultimas noticias no Teletexto da RTP. Lá vinha em maiúsculas "POBORSKY NO BENFICA". Desci à rua ansioso por esfregar aquela bomba na cara dos meus amigos sportinguistas.

Caramba, éramos enormes. Passaram-se mais de 25 anos. E continuamos a viver no pensamento e ilusao de achar que ainda somos um monstro adormecido.

Um Hércules que a qualquer instante despertará deste pesadelo que é não sermos capazes de reinar confortavelmente a nível interno e fazer frequentes brilharetes lá fora, tendo em conta os recursos de que dispomos.

E, sobretudo, um recurso que todos no Mundo invejam e poucos podem igualar: a dimensao da sua massa adepta.

Nunca devemos perder o respeito e o reconhecimento aos nosso principais adversários no futebol, Sporting Clube de Portugal (SCP) e Futebol Clube do Porto (FCP). Nem nunca devemos confundir pessoas com instituições.

Dito isto, resulta-me difícil compreender a dificuldade crónica que o Sport Lisboa e Benfica tem para conseguir uma presença mais dominante na paisagem dos títulos em Portugal. Se, de uma forma natural, deveria ser algo recorrente a conquista de Taças e Ligas, mais ainda o deveria ser tendo em conta os momentos que os referidos rivais têm atravessado.

O SCP continua a ser um saco de gatos onde ninguém se entende e ainda anda a apanhar cacos derivados de décadas de más gestões financeiras e desportivas. Já o FCP, e apesar das suas recentes conquistas inclusive internacionais, só não anda a navegar do 3º lugar para baixo

porque insistentemente e de forma absolutamente incompreensível continuamos a lançar-lhes bóias de salvação em pleno alto-mar.

Depois eles sobem ao barco, tentam empurrar-nos borda fora, tropeçam sozinhos e voltam a cair ao mar, e lá vai outra bóia. É assim há anos.

E no meio deste convés, nós os adeptos, impotentes a observar tudo, com uma raiva que nos consome e sem percebermos muito bem o porquê de não ser possível ter um rumo que saiba honrar e defender os valores, orientações e ambições do nosso clube.

Não é problema desta Direcção, nem das anteriores, é estrutural. É um problema de todos.

Não discuto nem por um segundo que Rui Costa queira e deseje o melhor para o Sport Lisboa e Benfica, mais faltaria questioná-lo sobre isso.

O que quero trazer à discussão é se de facto continuamos a ser o tal monstro.

Talvez fosse positivo dar um ou dois passos atrás na escadaria da ambição e reflectir bem sobre que Clube queremos ser e onde queremos estar dentro de 5, 10 e 20 anos.

Reflectir sobre os valores que queremos ver aplicados.

Reflectir no respeito que os sócios do clube merecem e que muitas vezes nao o têm, por parte de sucessivas Direcções que insistem em considerar-nos como meros adeptos anónimos cujo único propósito é gastar o máximo de dinheiro possível em merchandising.

Reflectir porque não temos um Departamento de Comunicação que sirva precisamente os sócios.

Reflectir porque estamos constantemente a ser associados a prácticas menos positivas.

Reflectir sobre o que verdadeiramente é o Sport Lisboa e Benfica.

Daqui por 10/15 anos quando no Benfica Independente quiserem fazer programas com antigas glorias, conseguirão eventualmente trazer à conversa Diamantino, Joao Vieira Pinto ou Mozer, mas poucos mais! Porque a partir daí, então, não vão conseguir ninguém. As futuras velhas glorias não existem.

Vai sendo hora de tentar obter uma outra perspectiva daquilo que somos e do que queremos ser. Cavar, a partir daí, a senda dos êxitos. Com um rumo. Com organização de ideas. Deixar a conversa da ambição Europeia de parte, perceber como é que queremos lá chegar, aprender com os erros. Com os nossos erros e com os erros dos outros (AJAX estou a olhar para ti).

Perceber porque continuamos na fanfarronice de apresentar Di Maria daquela maneira, só faltou a volta olímpica ao Marquês.

Não significa isto que devemos deixar de lutar por títulos. O Benfica nunca pode deixar de lutar.

Significa lutar por eles com outros óculos. Com óculos de seriedade, de pragmatismo, de passos acertados. De varrer de uma vez por todas com tudo e todos os que prejudicam o Clube. Óculos que permitam blindar o Benfica a tudo o que é prejudicial, interno e externo, com pessoas competentes em rigorosamente todas as secções e departamentos. Encarar de frente esse medo cénico que é o FCP e tratá-lo. Sao muitos anos, 40 anos é demasiado tempo para ter medo do que quer que seja. Perceber que para eles nunca será só mais um jogo, que vivem para nos ver desaparecer nas Distritais, e que cada jogo é uma guerra e pode ser o ultimo dia da vida deles.

Arrumar de vez os óculos saudosistas de épocas passadas. Temos ganho coisas, sim. Foram feitas coisas boas, também. Agora imaginar como teria sido com o Penta mais fácil da história do Futebol Mundial, com gestões cuidadas e pensadas. Com critério e rigor. Seríamos o tal monstro que, à imagem de uma ou outra Liga, seria capaz de vencer 8 campeonatos em 10. Quero lá saber se a Liga Portuguesa ficaria menos interessante do que já é. Eu quero é ver o meu clube ganhar. Sempre.

Viva o Sport Lisboa e Benfica!


▶ Texto enviado pelo benfiquista André Pessoa, sócio n.º 83340


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