Colocar os Benfiquistas acima de tudo
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▶ Texto enviado pelo benfiquista André Machado
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No passado sábado vivemos uma das mais bonitas histórias de associativismo mundial — não apenas no desporto, mas em qualquer tipo de instituição. Este deve ser o primeiro pensamento de todos os benfiquistas ao final deste longo fim de semana.
Ao contrário do que se lê nas redes sociais e na bolha do Twitter, o Benfica está vivo. Quer gostemos ou não dos resultados da primeira volta, temos de aceitar que os sócios querem continuar a ter uma palavra a dizer no rumo do clube.
Deixando isso claro, este texto dirige-se aos sócios que acreditam que o Benfica precisa de mudar, mas que também sentem que o Benfica que ambicionam pode parecer uma ilusão ou uma impossibilidade, dada a imensa massa associativa que exprimiu intenção contrária no sábado. Não se deixem abater pelos resultados, nem entrem na crítica fácil a quem pensa diferente.
Um voto em JNL, Rui Costa, LFV ou JDM vale exatamente o mesmo. O valor democrático do Benfica exige que o debate se faça em torno das ideias e não da aptidão de quem vota. Não podemos continuar a ostracizar sócios do Sport Lisboa e Benfica. O Benfica não tem lados — todos defendemos aquilo que acreditamos ser o melhor para o clube, cada um à sua maneira. Eu próprio sinto vergonha alheia por ver tantos acreditarem mais em Vieira do que em JDM, mas chegou a hora de perceber também o que se passa do outro lado da barricada. É tempo de criar pontes e desmontar mitos.
As eleições mostraram dois polos distintos: o Benfica de Lisboa — o que habita regularmente o Estádio da Luz — e o Benfica periférico, que não vive o dia-a-dia do clube.
Nos pavilhões da Luz assistiu-se a uma luta acesa entre JNL e Rui Costa (e até entre JDM e LFV), revelando o desejo de mudança que aqui se sente. Já nas mais de cem secções de voto espalhadas pelo mundo, viu-se uma monumental mobilização pela continuidade. Não há benfiquistas de primeira nem de segunda; há apenas Benfica e benfiquistas.
Cabe-nos a nós, arautos da mudança, compreender o que leva a maior parte dos sócios a defender o status quo e o que falhou na comunicação de JDM e JNL. Com efeitos diferentes, uma vez que para JDM, tendo em conta todo o contexto o número de votantes alcançado já é, por si só, um feito marcante.
Temos de reconhecer que o Benfica afastado do estádio vive o clube de outra forma. Enquanto uns vivem o benfiquismo nas assembleias, nos pavilhões, e para mim, no glorioso convívio na madrugada de sábado para domingo à porta do pavilhão à espera de resultados, para outros o Benfica é representado nas suas atuais figuras — Rui Costa, Simão, Mourinho, e, no passado, Vieira.
O pesadelo vivido pelo Benfica, e do qual muitos sócios ainda não recuperaram, marcou uma geração: a queda do verdadeiro Benfica de 1904-1994 e o período negro que se seguiu deixaram marcas profundas. Para muitos, esse ciclo terminou com Vieira. Para mim, ainda o vivemos, mas devemos respeitar o pensamento contrário e tentar compreendê-lo.
Com Vieira, o Benfica voltou a ganhar — pouco, mas voltou. Recuperou algum respeito e enfrentou a ditadura de Pinto da Costa e do FC Porto, ainda que entrando na lama onde o adversário era rei. O último ponto levou a que o nome do Benfica fosse arrastado por inúmeros processos e polémicas, desde aliciamentos a jogadores e árbitros até à suspeita de lesar o próprio clube.
Rui Costa, conseguiu mudar o seu paradigma. A sua comunicação foi eficaz: o nome do Benfica (ou do próprio) está mais limpo na praça pública, mas o clube mais envergonhado dentro de campo. A campanha do atual presidente (ao longo do mandato e não só nas últimas semanas) focou-se em limpar a imagem e convencer os sócios de que o clube que herdou estava em ruínas devido ao foco judicial que pairava na altura sobre o clube — livrando-se definitivamente das amarras do seu passado com Vieira, e que o próximo passo da sua direção será o do sucesso desportivo.
É fácil entender o próximo passo necessário dentro desta narrativa: a união. Após o período tenebroso de Vieira, a mensagem é que o Benfica precisa de união para voltar a vencer. Essa ideia tem mais impacto no benfiquista afastado do estádio, que associa a contestação interna à falta de união e, por isso, ao insucesso.
Quem vive o Benfica pelo estádio, porém, vê outra realidade. A contestação nasce de um clube mais associativo e participativo do que no período de Vieira, e Rui Costa aproveita essa vitalidade para reforçar a ideia de que lutou pela democracia interna, ao mesmo tempo que critica o próprio ambiente de debate, argumentando que isso fragiliza a tão proclamada união.
O Benfica periférico não deseja a continuidade por considerar Rui Costa o mais preparado, mas por querer o seu querido Benfica em paz. Cabe-nos, a nós, enquanto oposição, apresentar ideias, desmontar estereótipos e compreender as decisões de quem vota diferente.
Rui Costa herdou a mais poderosa máquina de propaganda em Portugal, fortalecida pelo seu nome limpo e pelo peso simbólico que tem no futebol do Benfica. Essa fusão entre pessoa e instituição leva muitos a acreditar que não votar Rui Costa é não votar Benfica. Temos de desmontar esta ideia, sócio a sócio.
O mote que quero deixar para esta segunda volta é que nós, e João Noronha Lopes e a sua equipa, saibam apresentar mais as suas virtudes, que os defeitos de quem lá está, porque isso para uma larga franja de Benfiquistas equivale a atacar o clube. Não entremos na luta na lama, e saibamos elevarmo-nos na defesa daquilo que achamos ser o Benfica ideal, e esse Benfica ideal depende também de quem neste momento não concorda com a nossa visão para o clube.
Se apregoamos que o Benfica deve ser devolvido aos Benfiquistas, saibamos convencer esses Benfiquistas que a mudança também parte por eles, ao invés de ser contra eles.

