top of page
leaderboard.gif

Carta de um benfiquista cansado: ou o que ainda me vai restando do Benfica

▶ Texto enviado pelo benfiquista Gonçalo Marcos


Queres publicar um texto no nosso site? Envia por email ou pelo formulário do site.


NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

ree

Há dias em que me pergunto se o Benfica ainda é o Benfica. Ou melhor, se ainda é o meu Benfica. 


Cresci com o meu pai a gritar os golos do Isaías - ídolo máximo do meu velhote - e com o antigo Estádio da Luz como fotografia colada no meu quarto da minha infância. O Benfica, nesse tempo, mesmo no seu Vietname, era vivido com amor e esperança. Mas hoje, com 38 anos, o que sinto é que me estão a empurrar para fora do meu grande amor. Aos poucos, às escondidas, com luvas brancas e sorriso falso, tratam-me como um mero cliente, seja na loja, no site ou até numa visita impessoal ao museu. 


A atual direção — e sim, falo de Rui Costa com o peso do desgosto  — parece ter feito um curso acelerado de desumanização do clube. A ligação entre adeptos e a estrutura está completamente arruinada. Tudo cheira a plástico, a marketing feito em PowerPoint por gente que se esqueceu que o Benfica é feito pelo e para o povo. 


As contas? É olhar para os relatórios com calma — e uma caixa de ansiolíticos. Um passivo que teima em crescer, um clube refém de empréstimos obrigacionistas, com vendas cirúrgicas só para equilibrar colunas no Excel. Onde está a sustentabilidade? Onde está a transparência? Onde está a verdade? Há um nevoeiro à volta das contas que nem o nevoeiro da Luz do velho Coluna era tão cerrado. E ao contrário deste, este não tem nada de romântico. É só preocupante.


Mas talvez o que mais me doa — e nisto a dor é literal — é o abandono da formação. O Seixal, outrora a jóia da coroa, foi transformado num cenário de filme parado. O que se fez ao talento? Onde estão os nossos miúdos? Substituímos a aposta nos nossos por um festival grotesco de jogadores medianos, contratados com selo de agentes que conhecem bem as portas giratórias do futebol moderno. Cada contratação tem cheiro de comissão. E o que nos sobra é um plantel gordo, sem identidade, onde o benfiquismo é vendido por atacado e sem garantia de devolução.


Depois temos o Benfica District, esse parque temático da ilusão. Uma espécie de Disneyland para adeptos ingénuos. Um projeto que mistura Zaras, Mangos e sonhos em leasing. Populismo puro. Como se construir paredes fosse resgatar valores. Como se betão fosse alma. O Benfica é desporto, não imobiliário.

Falo aqui de direção, de rumo, de verdade. Falo de paixão maltratada. Porque a maior derrota que estamos a viver é emocional: é o afastamento silencioso dos adeptos. O estádio enche mas os adeptos sentem menos. E no fim de cada época, o que devia ser esperança transformou-se em fadiga.


Mas ainda acredito. Porque o Benfica, apesar de tudo, não é isto. É maior do que as pessoas que o gerem. É o povo. Somos nós. E por isso, não podemos falhar. A mudança não é uma opção. É uma urgência. Porque quando o Benfica volta aos benfiquistas, tudo volta a fazer sentido. Unidos. Só assim.Como fomos. Como ainda podemos ser.

 
 
 

4 comentários


Nuno
23 de jul.

Bom texto. Concordo com tudo.

Dá a sensação de querermos imitar o Manchester United. Com a diferença que no Man Utd não há sócios. O clube não é dos adeptos. O nosso… devia ser.

O Seixal, que devia ser uma máquina de criação de jogadores com alma benfiquista, um multiplicador de talento, formação e “raça”… transformou-se num mero gerador de mais-valias. Mastigam-se os miúdos, cortando, ganhando tudo nos escalões jovens, cortando as pernas a todos, no salto para a equipa principal. Só mesmo talentos superlativos, que desaguam em campeões europeus, conseguem transpor a fasquia de exigência imposta. Todos os outros são ultrapassados por talentos de outras escolas - croatas, suecos, argentinos, dinamarqueses, noruegueses, eu sei lá. O que têm esses…

Curtir

Jose H Gomes
23 de jul.

RC É DO POVO E DO BENFICA

Mas por ironia do destino, da sua habilidade para jogar á bola, desde muito novo teve sempre muito dinheiro na conta, viveu como um menino rico, bom rapaz mas vivei num Mundo paralelo e ilusório, Muito Bom jogador, nem tanto como gestor, existem outros por aí que foram jogadores medianos, tiveram que pedalar pela vida, HOJE têm mais conhecimentos de Gestão e responsabilidade financeira que o RUI, existem muitas armadilhas nesse percurso, Caro RUI, não arraste o GLORIOSO e os BENFIQUISTAS para o ABISMO, do pulha do palheiro é normal, mas de um BENFIQUISTA a sério NÃO...

Curtir

Convidado:
23 de jul.

Parar no tempo é morrer, queres um Benfica ainda a jogar no pelado, porque esse era o Benfica do Cosme Damião,o Benfica paixão? Os tempos mudam e as vontades/gostos também. Tempos modernos, só os Museus é que se preocupam com o passado.

Curtir
JPEB
23 de jul.
Respondendo a

Td certo com a evolução, a menção aos pelados era desnecessária. Há petróleo na Luz? Relembro que o core do Benfica é ganhar troféus e não o betão para se encherem.

Saudações benfiquistas!

Curtir

⋆ E Pluribus Unum ⋆

MCMIV

bottom of page