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Exigir com inteligência

▶ Texto enviado pelo benfiquista Bernardo Quialheiro


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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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Fui — e continuo a ser — um crítico feroz do silêncio que esta direção manteve durante demasiado tempo. A perda de respeito institucional, a subjugação do Benfica aos interesses do status quo do futebol português, a defesa de lugares comuns em vez da defesa intransigente do clube… tudo isso não passou despercebido nem para mim, nem para milhares de benfiquistas que, como eu, exigem mais do que palavras vazias.


Durante anos, assisti frustrado a uma postura que, em vez de proteger o Benfica, pareceu deixá-lo refém de uma lógica de acomodação e silêncio estratégico. Essa passividade alimentou um sentimento de abandono, uma sensação crescente de que o nosso clube estava a perder a voz — não apenas nos palcos desportivos, mas sobretudo no cenário político e institucional onde se jogam muitos dos destinos que o Benfica precisa de conquistar.


Por isso, nunca hesitei em denunciar esta falta de coragem, esta subalternidade à corrente dominante, esta incapacidade de afirmar o Benfica com a firmeza que ele merece. O silêncio foi para mim uma ferida difícil de aceitar. E esta minha crítica é pública, honesta e fundamentada.


Mas hoje, perante o comunicado do clube depois da final da Taça de Portugal, não posso ficar indiferente. É impossível passar ao lado desta tomada de posição que, sendo tardia, é genuína na sua essência e necessária no seu tom. É a primeira vez em muito tempo que vejo o Benfica erguer-se com clareza e firmeza para denunciar o que de errado se passou, sem rodeios, sem ambiguidades.


Isso não significa que tenha deixado de exigir ou que me tenha tornado um adepto acrítico da direção atual. O meu voto no próximo ato eleitoral será pensado, crítico e consciente, porque a mudança que o Benfica precisa é profunda e estrutural. Também continuarei atento e pronto a denunciar eventuais falhas, incoerências ou recuos.


No entanto, não quero — e não posso — deixar que a legítima vontade de mudança se perca num ruído constante de desconfiança, numa lógica de rejeição automática que acaba por ser contraproducente. O benfiquista que só sabe dizer “não” a tudo o que vem da direção, mesmo quando o que vem é finalmente uma reação forte e clara, transforma-se numa espécie de criança que faz birra, que grita, que bate o pé, mas que já ninguém leva a sério.


Essa postura não serve o Benfica. Ela dispersa energias, fragmenta vozes e afasta os que podem ser aliados numa verdadeira transformação do clube. Porque para mudar o Benfica não basta querer. É preciso saber construir. Saber reconhecer os primeiros passos, ainda que imperfeitos. Saber criar pontes em vez de levantar muros.


A exigência deve ser um instrumento inteligente — que não abdica de exigir o melhor, mas que não rejeita o que é positivo só porque não veio no momento perfeito ou da forma ideal. Só assim poderemos ser mais do que um coro de reclamações inconsequentes. Só assim poderemos ser agentes de mudança real.


Por isso, lanço um apelo: sejamos exigentes, sim, mas com inteligência e responsabilidade. Que a nossa voz seja firme, mas construtiva. Que a nossa crítica seja um passo para a mudança, e não uma barreira que a impeça.


A exigência sem direção é apenas barulho. A crítica sem propósito é apenas desgaste. O que o Benfica precisa — e o que todos nós, benfiquistas, precisamos — é de uma exigência que saiba quando pressionar, mas também quando reconhecer avanços, mesmo que pequenos. Que saiba diferenciar a crítica que derruba da crítica que ergue, a dúvida que paralisa da dúvida que instiga o debate e a melhoria.


Mais do que nunca, o clube precisa de união na diversidade, de vozes plurais que se respeitem, de uma base sólida onde possam crescer ideias e projetos. Precisamos de transformar a nossa indignação em força construtiva, em contributos práticos, em mobilização inteligente.


Se continuarmos a agir como aquela criança que faz birra e já ninguém liga, corremos o risco de perder a oportunidade histórica de sermos protagonistas da mudança que todos desejamos. Corremos o risco de ficar presos num ciclo de desilusão que paralisa e afasta quem quer avançar.


O Benfica não merece isso. O Benfica merece um movimento vivo, dinâmico, que sabe ser exigente sem ser destrutivo, que sabe criticar sem perder a esperança, que sabe lutar sem se fragmentar.


É nessa exigência consciente e coletiva que reside a nossa maior força. É na capacidade de unir, mesmo com diferenças, que construímos o verdadeiro futuro do clube.


Por isso, não basta querer mudança — é preciso agir com inteligência para que essa mudança aconteça. E isso começa em cada um de nós: na forma como debatemos, na forma como pressionamos, na forma como apoiamos.


Se formos capazes de canalizar a nossa paixão benfiquista para uma exigência madura, equilibrada e inclusiva, teremos uma voz que não poderá ser ignorada. Uma voz que poderá, finalmente, mudar o Benfica para melhor.


Este é o desafio — e a responsabilidade — que hoje nos cabe a todos.

 
 
 

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