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Há derrotas e derrotas

Ora cá estamos para lamentar mais um jogo infeliz do Benfica frente ao Porto, algo que por esta altura dificilmente se pode considerar novidade ou surpresa. Os anos passam, os jogadores e os treinadores mudam, mas uma coisa mantém-se inalterada desde a inauguração da nova catedral: o Benfica não é capaz de se impor ao Porto na sua casa.

Mais do que palavras, os números ajudam a descrever o problema:

Jogos na Luz desde 2003/2004 (fonte)

  • 20 jogos

  • 6 vitórias

  • 6 empates

  • 8 derrotas

  • 22 golos marcados / 24 sofridos

Antes de escrever sobre o jogo de ontem permitam-me recuar até ao dia 12 Fevereiro 2016. Nessa noite de Inverno o Benfica recebia o Porto também em vantagem pontual, apesar de seguir atrás do Sporting, e em cima de uma grande série de vitórias que lhe davam claro favoritismo. O treinador do Porto era José Peseiro e os azuis-e-brancos apresentavam-se com um central da equipa B no 11, Chidozie. Tinha tudo para correr bem, mas perdemos 1-2.


No entanto, essa partida ficará sempre na minha memória devido à exibição incrível de Casillas que, de facto, nos impediu de sair com os 3 pontos. Nessa noite o Benfica fez de tudo para ganhar e só não conseguiu porque o adversário contou com uma exibição fabulosa do seu GR. Entendem? O Benfica não falhou, o adversário teve mérito (e alguma sorte, diga-se). Houve garra, atitude, futebol ofensivo desde o primeiro minuto e, arrisco dizer, se existissem mais 10 jogos como aquele o Benfica ganharia 8… mas aquele dia não era nosso. Faz parte do futebol e saí do estádio triste pela derrota mas de certa forma orgulhoso pela atitude dos nossos jogadores. O Porto foi para casa feliz mas com plena noção que não foi a melhor equipa nesse dia.


E depois temos a partida de ontem.

Que dizer? Afirmar que estou desiludido é um eufemismo, o que me vai na alma é algo completamente diferente.

Marega lá teve de marcar um golo, tantas foram as oportunidades

A nossa equipa apresentou-se com uma atitude branda, parecendo mais preocupada em controlar o adversário do que em ter a bola, e foi deixando o rival ganhar confiança até ao ponto do factor casa praticamente deixar de existir. O nosso jogo ofensivo foi tão pobre que apenas fizemos um remate, desenquadrado, em 45 minutos! A defesa esteve sempre nervosa e em grande desvantagem física perante os dois avançados contrários que foram ganhando incontáveis bolas de cabeça; o meio-campo foi incapaz de sacudir a pressão alta contrária e sair a jogar com a bola no chão; os avançados praticamente não existiram. Uma miséria total durante 90 min!


Para ajudar à festa também Bruno Lage pareceu afectado pelo que se via no relvado. A substituição de Samaris por Taarabt ao intervalo não fez sentido, ganhámos capacidade de circulação de bola mas perdemos completamente o controlo da zona central, e a entrada de Chiquinho por De Tomas foi feita tarde demais quando já era óbvio há muito tempo que a equipa precisava de uma solução diferente para fazer chegar a bola ao ataque. Não sei o que se passou com o nosso timoneiro, mas também ele teve um dia para esquecer. Falhou a toda a linha, tanto na preparação do jogo, com um discurso pouco motivador e até fofinho para o adversário, como na gestão do mesmo.


Boa disposição entre Luisão e Pinto da Costa

Porque temos de assistir a estes tristes espectáculos na nossa casa sem que a equipa seja capaz de reagir? O factor casa parece do rival e só falta estenderem passadeiras e decorar os balneários visitantes com flores. Reparem que o Porto raramente ganha em Alvalade mas na Luz joga como se estivesse em casa! Onde está a raça benfiquista?


De qualquer modo, ontem tivemos a confirmação daquilo que já se percebia durante a pré-época e que parece óbvio para todos menos para os responsáveis pelo futebol do clube: este plantel tem lacunas óbvias, algumas já se arrastam desde a época passada.

  1. Vlachodimos é bom entre os postes mas tem sérias limitações no controlo da profundidade, o que prejudica gravemente o nosso modelo de pressão colectiva. É absolutamente incapaz de fechar o espaço à sua frente o que nos deixa vulneráveis a qualquer adversário com médios capazes e avançados velozes. As alternativas são inexistentes.

  2. Não existe uma alternativa a Gabriel que permita manter o estilo de jogo na sua ausência, problema que já se tinha verificado aquando da sua primeira lesão na época passada. Renato Sanches foi para o Lille por 20M, pouco mais do que custou o terceiro avançado da equipa.

  3. Temos um problema grave do lado direito da defesa, algo que está por resolver desde a saída de Nelson Semedo para o Barcelona. André Almeida é o único lateral direito da equipa. Tomás Tavares? Não. Ainda não.

  4. Raul De Tomas não está a interpretar bem o papel de segundo avançado e a equipa fica sem ligação ao ataque. Por esta altura Seferovic tem menos 38% de acções com bola do que a média da época passada, a bola simplesmente não chega lá!

Tivemos 3 meses para resolver as situações pendentes do ano passado e, mais uma vez, não fizemos nada. Isto é grave, isto é recorrente, isto não é aceitável nem compreensível com a agravante de termos realizado um encaixe recorde com transferências tendo apenas contratado 4 atletas (Cadiz nem conta) quando as limitações do plantel são óbvias.


Honestamente já nem sei dizer se esta gestão de plantel desastrosa, que se repete todos os anos, se deve a estratégia ou ignorância. Ou seja, os responsáveis, com o Presidente à cabeça, não querem investir ou acham que o que temos é suficiente para ir ganhando internamente?

Qualquer que seja a resposta, está mais do que na altura de entregar a pasta do futebol a alguém que entenda do assunto. Rui Costa, Nuno Gomes… não sei, mas arranjem um gestor de futebol tão competente como os restantes das outras áreas do clube. Não faz sentido que o nosso core business seja gerido de forma tão amadora quando em tudo o resto somos um exemplo a nível europeu!


A dedicação e resposta dos benfiquistas merece mais que um plantel para consumo interno. Exige-se menos arrogância e mais ambição, à Benfica!

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