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Foto do escritorBenfica Independente

Mimados ou Privilegiados?

A época 2019/20 terminou, finalmente terminou.


Entrámos nela cheios de ilusão, com um treinador que nos tinha apaixonado, com um grupo de jogadores que ultrapassaram os 100 golos numa época e que fizeram uma das mais memoráveis segunda volta de sempre do campeonato português.

Entre os grupos de amigos benfiquistas discute-se atualmente como terminamos esta época com uma dobradinha do FC Porto (clube que continua intervencionado pela UEFA e a viver uma complexa situação financeira).


Passado um ano, o treinador foi demitido e grande parte dos jogadores que nos fizeram sonhar são criticados e o seu valor colocado em causa.

Como chegámos a este ponto? O que mudou em tão curto espaço de tempo? Como passámos do sonho à desilusão com a maioria dos atores da época passada?

O meu texto foca-se na questão dos jogadores, uma vez que muito já se escreveu acerca do fenómeno Lage.


Voltemos a Janeiro de 2019, momento em que Lage assume a liderança da equipa principal do SL Benfica. A liderança estava a 7 pontos de distância e o jovem treinador sobe à equipa A uma mão cheia de jovens da formação. Três destacaram-se de imediato: Ferro, Florentino e a estrela em ascensão João Félix. O impacto foi imediato e entre a irreverência de um Félix que colocou toda uma equipa a jogar à sua volta e o cerrar de fileiras impulsionado por uma sequência impressionante de vitórias levou-nos a um dos campeonatos mais saborosos, principalmente por quase ninguém já acreditar nele.


Serve este parágrafo para contextualizar como iniciámos a época que agora finda. Com uma sensação de liderança e poderio face aos nossos mais diretos rivais. Sensação essa ainda mais cimentada pela histórica vitória por 5-0 ao Sporting CP que valeu a conquista de mais uma Supertaça para o nosso grandioso palmarés.

Mas o que aconteceu entre a consagração do jogo contra o Santa Clara e o jogo que nos deu a Supertaça contra o Sporting?

Durante a pré-época saíram do Benfica Jonas, Sálvio e Félix. E cedo se percebeu que Fejsa e Jardel não contavam para Bruno Lage. Entraram RDT, Vinícius e mais miúdos da formação, com destaque para Nuno e Tomás Tavares.


Entretanto o SL Benfica renovava com Pizzi, Rafa, Seferovic, Grimaldo, André Almeida, Samaris, Gabriel, até 2023 ou 2024, numa estratégia inteligente de blindagem destes jogadores, mas com novos contratos de longa duração e todos a roçar o teto salarial do clube.

E aqui jaz, na minha opinião, o início do insucesso do Benfica 2019/20. Entre Maio e Agosto, a estrutura do clube vê saírem ou serem afastados os jogadores com mais experiência e liderança do balneário (Jonas, Sálvio, Jardel, Fejsa) e vende por valores irrecusáveis a pérola que revolucionou o futebol do clube: Félix. Em sentido oposto contrata jogadores com poucas ou nenhumas provas dadas (RDT e Vinícius) e fortalece através de renovações o peso de alguns jogadores no plantel (Pizzi, Rafa, Grimaldo, André Almeida, Seferovic, Gabriel).


De repente, os jogadores que se agigantaram em torno da genialidade de Félix e da experiência de Jonas, Sálvio, Jardel e Fejsa, tornaram-se eles a referência do plantel. Esses jogadores tornaram-se as estrelas do plantel e as caras da liderança no balneário.

E assim arrancou o campeonato. Apesar do primeiro aviso logo à terceira jornada, os resultados foram aparecendo. Jogava-se mal mas a bola ia entrando e este grupo de jogadores alcançou uma vantagem de 7 pontos face ao FC Porto. Até que chegou o dia em que viajaram ao Porto. Nesse dia podiam ter decidido o campeonato se não perdessem, mas saíram de lá derrotados (novamente) e acima de tudo com a certeza que não eram a melhor equipa.


Foi nesse momento que sobressaiu a falta de qualidade e de liderança do núcleo duro do plantel (Pizzi, Rafa, Grimaldo, André Almeida, Gabriel). Perceberam nesse momento que não eram as estrelas que a comunicação oficial do clube vendia semana após semana aos sócios e adeptos do SL Benfica. Perceberam que não iam ser capazes, que lhes faltava os alicerces que suportaram o sucesso passado e…entraram em pânico.

Desde esse dia foi um cair a pique semana após semana. De uma vantagem de 7, em poucas semanas passaram para uma desvantagem de 1 ponto face aos rivais. Casa ponto que perdiam, maior era o pânico e maior a certeza que não iriam ser capazes. E isso toldou-lhes o discernimento, contagiou o resto do plantel. Perderam o foco.


E é nestes momentos que é necessário que a qualidade apareça (já não havia um Félix) ou que os grandes líderes soltem um berro e reúnam as tropas (já não havia em Jonas ou Fejsa).

E o resultado final foi este a que assistimos ao último capítulo ontem, onde uma vez mais este plantel teve de enfrentar os seus medos e fantasmas, uma vez mais falharam. Não conseguiram, gelaram de pânico quando sofreram o primeiro golo.

Por isso concluo que estes jogadores não são mimados. Simplesmente não sabem mais. Subitamente foram elevados a estrelas de um clube grandioso como o SL Benfica e não aguentaram a pressão dos maus resultados. Não conseguiram lidar com a realidade, a de que são jogadores de plantel, jogadores de qualidade inegável, mas não são estrelas. Por falta de genialidade e de liderança.


Estes jogadores são sim privilegiados, por poderem envergar uma camisola com a grandiosidade do manto sagrado. O verdadeiro Benfica, talvez não permitisse que estes jogadores fossem titulares, quanto mais as suas estrelas. Estes jogadores não têm culpa de quem os criou, de quem alimentou os seus egos para esconder a falta de qualidade do plantel e a sua falta de ambição para conquistar títulos. Eles apenas serão eternamente gratos a um clube que lhe proporcionou serem mais do que alguma vez deveriam ter sido.

Estes jogadores terão o privilégio de vestir a camisola do SL Benfica até ao final do seu contrato, porque a sua qualidade não condiz com o seu vencimento. Estes jogadores não poderão ambicionar mais que se manterem no plantel do maior clube de Portugal.


Mas eu acredito que, se lhes juntarmos qualidade e a experiência e ambição de jogadores à Benfica, habituados aos grandes palcos, confiantes no seu futebol, se voltarmos a colocar estes jogadores no lugar onde pertencem dentro do plantel, eles voltarão a dar-nos alegrias e levar o Glorioso a novas conquistas. Isto porque se verão livres da pressão de serem eles a fazer a diferença e porque terão a seu lado líderes que os irão ajudar a tirarem o máximo das suas capacidades.


Estamos assim num momento crucial do futuro próximo do nosso clube. O Benfica precisa urgentemente de jogadores de qualidade, que sejam ambiciosos, que elevem o nível do plantel. É tempo de decidirmos se queremos um Benfica focado nos títulos desportivos ou focado nos negócios. Os próximos meses serão decisivos. Está nas mãos dos sócios quem queremos que sejam as estrelas do nosso clube.

Haja ambição, porque o SL Benfica está preparado para voar e voltar a encontrar-se com o seu destino: vencer!

▶ Texto enviado pelo benfiquista Rui Pinto, sócio 8749.

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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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