Todos estamos reticentes. Podia ter utilizado qualquer outro adjetivo que envolvesse preocupação para descrever o estado geral das hostes benquistas, mas pessoalmente é este que me ocorre. A reticência advém normalmente de incerteza, de não saber para onde nos encaminhamos e por não sentir um fio condutor que esteja a guiar o nosso Clube neste início de época. Nesta conversa, há um ponto de partida inequívoco: o Benfica está claramente abaixo daquilo que todos esperávamos e, sobretudo, daquilo que devia estar tendo em conta a aposta convicta que foi feita com o objetivo de, no mínimo, repetir o título de Campeão Nacional de 22/23.
E por causa desse mesmo caneco, que já tanto desejávamos, defrontámos o Porto na Supertaça e ganhámos. 2-0. É verdade! Parece que foi noutro mundo, esse longínquo mês de Agosto. Entrar a vencer, frente ao maior rival, tinha tudo para se tornar num tónico imbatível para construir a tal hegemonia interna que todos falamos para nos tornarmos também mais forte no palco onde nos apresentámos ao mundo: a Europa. Contudo, rapidamente vieram as dúvidas com uma derrota bastante mal sofrida no Bessa, num jogo totalmente atípico e onde, a meu ver, Roger Schmidt se mostrou mais capaz de sentir o que a equipa precisava e acabou por perder porque o futebol não é uma ciência exata. Sei que esta frase incomoda muito os benquistas, que invariavelmente sentem viver num mundo onde só o Benfica joga, mas a verdade é que o alemão já nos deu muitas lições que a linearidade neste desporto que tanto amamos é muito duvidosa. Não estávamos habituados, nem muito menos defendo que o Benfica comece a nivelar por baixo ou a ser menos ambicioso, mas a verdade é que o nosso treinador, proveniente de outra cultura e forma de entender o futebol, é o protótipo de um germânico racional que veio trazer uma frieza que acho indispensável para o futuro do Clube.
Podia chatear-vos com as descrições do caminho até aqui, mas acredito que apenas fosse um retrato penoso daquilo que todos temos visto, por isso vou direto ao que me trouxe a escrever este texto. Temos de saber, enquanto Clube, acreditar no projeto que escolhemos. E enquanto Clube falo em estrutura, encabeçada pelo Presidente, o plantel e nós, os adeptos. Começando pela estrutura, é crucial que quem lidera o Benfica, ao delinear um projeto, realize que são os dirigentes que o comandam e decidem o seu rumo. O Benfica não deve ser um projeto de um só treinador, mas sim deste unido à vontade do Clube, que se deve naturalmente sobrepor. Com as contratações aparentemente falhadas de jogadores que vinham substituir titulares absolutos, transparece que é o treinador que decide sempre. Nas alturas mais complicadas, será também ele a sofrer, com prejuízo para o desempenho do plantel. Como diz José Boto, que já passou por cá, o treinador não tem tempo suficiente para analisar jogadores com profundidade. Logicamente, tem de existir uma simbiose entre a equipa técnica e o departamento de scouting, mas deve ser este último que elabora uma short-list dos nossos alvos. O projeto é do Benfica, não de treinadores exclusivos. Continuando, em alturas de maior tensão, tem de aparecer a comunicação do Clube. Seja através do Presidente (figura capaz de apaziguar a maioria dos sócios), seja por Lourenço Coelho ou até por Pedro Pinto, que gostaria de ter a certeza que é realmente funcionário do Clube. São nestas alturas que se reunem as tropas, que se (re)aproximam adeptos e se dá um voto de confiança no projeto. Porque não há clube nenhum no mundo que triunfe baseado na constante política da terra queimada. Não seremos exceção, aliás, é olhar para os últimos anos e perceber os resultados práticos. Quando é identificada competência a um treinador, enquadrado no nosso projeto, temos de trabalhá-lo e entender que será impossível o ideal sonhador de ganhar 100% dos jogos. Não quero ser mal interpretado, porque o ideal sonhador é indissociável ao ser Benfica. Mas a concretização desse ideal trata-se de um processo que deve ser sustentado, que terá altos e baixos, mas que o consigamos trabalhar para que seja cada vez mais constante. Nenhum de nós esperava que este engenheiro que treinava o PSV nos pusesse a todos a sonhar com a 1ª final da Champions no século XXI. A verdade é que em Abril deste ano era essa a nossa realidade e já não se tratava de um sonho febril.
Por isso, que quem lidera o Benfica seja capaz de acreditar e mostrar crença no que desenhou para os próximos anos, fazendo-nos a nós acreditar.
Chegando à massa associativa, todos sabemos o poder de um Benfica que caminha lado a lado com o seu povo. Não há outra forma de dizer, somos imparáveis quando isso acontece. Todos sabemos o que sentimos naqueles jogos fora numa 2ª volta do Campeonato. Para mim, lembra-me Vila do Conde, mas seguramente cada um com a sua memória. Assim sendo, precisamos também nós de acreditar no projeto, de lhe dar o benefício da dúvida quando já vimos resultados e de entender que nunca seremos felizes se a solução for sempre a de mudar de treinador. Ao plantel e à estrutura faço o meu pedido final e principal: aproximem-se de nós. Quando dão a cara, se fazem próximos e são mais disponíveis terão em troca mais compreensão, maior ligação e vontade de caminhar em conjunto. Numa equipa grande e num Clube enorme, a equipa tem de puxar pelos adeptos. Tem de se mostrar digna de vestir o Manto Sagrado. Na Luz, fiquem mais tempo. Fora, que vos seja explicado os sacrifícios que fazemos para estar ali, em horários raramente com nexo, com temperaturas duras e viagens intermináveis só para vos ver. Vocês são o ópio deste povo, não se afastem dele. Cheguem-se à bancada, cantem connosco, saltem e desfrutem poder ser jogadores do Glorioso. Vão ver que aí, ninguém nos para. No fundo, o projeto são vocês. O projeto é o Sport Lisboa e Benfica.
▶ Texto enviado pelo benfiquista Duarte Chastre.
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