Bruno Lage foi promovido a treinador principal do Benfica há cerca de três meses e meio, chegando a uma equipa desacreditada e traumatizada. Nessa altura, eram poucos os que acreditavam que seria possível recuperar a distância de oito pontos a que nos encontrávamos naquela altura, bem como ganhar as taças nacionais e chegar longe na Liga Europa.
Bruno Lage erros nos dois jogos e pagou caro por isso. E as críticas que daí resultam são merecidas. Bruno Lage é um treinador novo nestas andanças e como tal, é normal que por vezes invente e cometa erros
Desviando-me um pouco do cerne da questão, ao ver o seu estilo e a sua forma de estar e de trabalhar, rapidamente me apercebei que o futebol português não estava preparado para ver um treinador como Bruno Lage, muito menos ao serviço do maior clube de Portugal.
Primeiro, pelos métodos de treino e pela forma como valoriza o jogo, que não levou muito tempo a abrir as bocas dos mais conspiradores com as alegações de que a equipa jogava dopada e/ou de que o adversário tinha sido comprado. E segundo, pela sua postura lúcida e coerente, pelo seu discurso rico em conteúdo futebolístico e pelo facto de não alinhar em provocações e em jogadas de bastidores, não alimentando jornalistas desesperados por polémicas.
Passando para o que realmente se passa cá dentro, Bruno Lage meteu a equipa a jogar o futebol pelo qual muitos suspiravam (ou talvez não, tendo em conta os assobios que se ouvem em jogos em que a equipa marca quatro golos), recuperou uma liderança que muitos julgavam ser impossível, ganhou em Alvalade e no Dragão, aplicou a maior goleada do campeonato dos últimos 50 anos…
Bruno Lage conseguiu algo que muitos adeptos julgavam ser um milagre e consequentemente, foi elevado ao estatuto de “Deus”, fruto da extrema necessidade de alguns adeptos em criar ídolos e a elevação a esse estatuto origina o chamado Estado de Graça, o período em que se dá a entender que Bruno Lage está imune a erros e a críticas. No entanto, com as eliminações da Taça de Portugal e da Liga Europa, essa necessidade em criar ídolos esbarrou com a sua desilusão ao perceberem que aqueles que tanto idolatram também cometem erros.
Vivemos num mundo onde cada pessoa é livre de dar a sua opinião. Porém, opiniões onde imperam a falta de noção e de lucidez é algo que me tira do sério.
Bruno Lage errou nos dois jogos e pagou caro por isso. E as críticas que daí resultam são merecidas. Bruno Lage é um treinador novo nestas andanças e como tal, é normal que por vezes invente e cometa erros, e só passando por essas situações é que poderá crescer e aprender. Isto, sem esquecer que ele trabalha com uma equipa que não foi montada nem preparada por ele e que, fruto da sua juventude e pouca estaleca neste patamar competitivo, o seu rendimento tenha naturalmente algumas oscilações.
Aquilo com o qual eu não me conformo, é com a facilidade com que os adeptos (e atenção, isto não é um mal exclusivo dos benfiquistas) passam do oitenta ao oito, do bestial à besta. Aquele que há umas semanas atrás era intocável, agora é visto como um inventor que abdica de competições e que deve ser despedido caso não seja campeão.
Há uma coisa que temos de perceber: se ficámos com azia por esta eliminação da Liga Europa, foi porque Bruno Lage nos fez acreditar que podíamos sonhar na Europa com esta equipa, sendo que há três meses e meio, de certeza que não haveria ninguém que tivesse a ousadia de sonhar em tal coisa.
Vivemos num mundo onde cada pessoa é livre de dar a sua opinião. Porém, opiniões onde imperam a falta de noção e de lucidez é algo que me tira do sério. Temos de saber criticar quando há motivo para tal, mas também temos de ser coerentes ao ponto de considerarmos de Bruno Lage já não presta.
A meu ver, Bruno Lage já mostrou ser o treinador certo para este Benfica. Quanto àqueles que já pedem a sua cabeça, só tenho uma coisa a dizer: perdoa-lhes Lage, há benfiquistas que não te merecem.
▶ Texto enviado pelo benfiquista Tiago Serrano
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