Quis o acaso que, no momento em que comecei a interessar-me por futebol, o Benfica fosse
uma espécie de ruína de outrora. Eram meados dos anos 90 e ganhar ao Porto era quase tão improvável quanto ganhar um campeonato.
Apesar da crença num resultado positivo, não havia optimismo que pudesse levar um tipo a
esperar convictamente uma vitória. Aliás, para minha própria defesa, partia do pressuposto de
que iríamos perder. Assim, se ganhássemos seria uma boa surpresa. Se perdêssemos, era
apenas mais um dia.
A verdade é que os tempos mudaram e as coisas tenderam a equilibrar-se.
Apesar de alguns adeptos do Porto chamarem recorrentemente “salão de festas” ao Estádio
da Luz (muito graças ao facto de terem ali ganho o campeonato em 2011), nos últimos 10
jogos neste Estádio o Benfica registou 4 vitórias, 3 derrotas e 3 empates com o Porto, marcou
15 golos e sofreu 12. Ainda assim, é demasiado equilíbrio para um jogo disputado na casa de um dos grandes que deveria ter maior preponderância, à semelhança da que o Porto tem no Dragão.
Um jogo com o Porto (ao qual não ganhámos em casa entre 16/04/2014 e 07/10/2018) é
sempre muito difícil. Dificuldade que se traduz em contentamento quando as coisas correm bem, como em 2014 naquele jogo da Taça de Portugal em que André Gomes deixou Fernando preso ao chão e de mãos no ar (numa espécie de coreografia de hidroginástica) marcou o 3-1 que nos levou à final. Foi o jogo que mais gostei de ver ao vivo.
Olhando para a actualidade, vejo um Porto magoado depois de perder na 1ª jornada e na pré-
eliminatória da Champions, quando nada o faria prever. Mas essa “dor” facilmente se traduzirá em força.
O Porto é um clube que ainda vive muito de dinâmicas de motivação à antiga, recorrendo
sistematicamente a chavões como o inenarrável “contra tudo e contra todos” e o mais
interessante, é que pega. A ideia de revolta cai bem no ambiente portista, especialmente com
um treinador emotivo como Sérgio Conceição.
Vai ser um jogo equilibrado, certamente. Espero que Bruno Lage consiga manter a dinâmica
que trouxe ao Benfica quando chegou, não permitindo que o Porto dominasse o meio campo
nos dois jogos que com eles disputou (ao contrário do que vimos quase sempre nos últimos
anos). Temo, no entanto, que o Benfica esteja demasiado dependente do repentismo de Rafa, o
jogador mais importante da equipa de momento, algo que foi evidente no Estádio Nacional
com o Belenenses. Preocupou-me um certo ruivitorismo a que assisti nesse jogo: equipa a ganhar por 1-0 e a jogar na expectativa sem manter a toada ofensiva.
Não é possível deixar de notar que Seferovic está a falhar muito. Sim, cria espaços. É lutador.
Mas falha muitos golos. Em jogos difíceis o Benfica terá de marcar mais vezes do que falha,
porque vai ter poucas oportunidade para o fazer. Seferovic até marcou ao Porto no último jogo
no Estádio da Luz mas acho que está na hora de dar lugar a Vinicius, mantendo o modelo de
jogo, ou a Chiquinho, dando mais consistência ao meio campo.
Do Porto espero a garra de sempre. Marega será sempre um perigo e Luís Diaz foi uma boa
aquisição, à semelhança de Marchesín. Até Soares, que está em momento não, é extremamente periclitante em dia sim.
Veremos.
Texto da autoria do benfiquista Bruno Antunes.
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