Faz uma semana que a equipa de futebol do Benfica conseguiu a tão desejada reconquista. Este 37º campeonato acaba por ter particular importância em dois sentidos: primeiro, porque premiou a aposta em Bruno Lage, um homem da casa identificado com o projecto do clube e que implementou um futebol que promove a evolução dos jogadores; segundo, porque um eventual bicampeonato do FC Porto seria uma séria ameaça à hegemonia que temos vindo a construir nos últimos anos.
No entanto, tendo em conta as últimas duas épocas, tenho vindo a questionar seriamente qual é o investimento que deve ser necessário daqui para a frente, de modo a termos um plantel capaz de lutar em todas as frentes, um plantel a altura da dimensão do Sport Lisboa e Benfica.
É evidente que na temporada 2017/2018, a equipa começou a falhar o Penta no planeamento da temporada. O clube tinha vendido três jogadores nucleares e não arranjou jogadores capazes de os substituir no imediato. Apesar do visível desinvestimento que tanto foi falado ao longo dessa temporada, essa questão nunca me convenceu realmente porque apesar de termos gasto menos de 10 milhões de euros na compra de jogadores, perdemos o campeonato para um clube que gastou apenas um milhão de euros num guarda-redes que só fez um jogo oficial em toda a época. E ainda assim, apesar do desinvestimento, do mau arranque, e da campanha vergonhosa na Champions, o Benfica chegou a liderar o campeonato já perto do seu fim. Teve o pássaro na mão e deixou-o fugir.
A conclusão a que chego ao ter visto isso tudo, é que o condicionamento dos rivais é que levou a estrutura do Benfica a ter uma abordagem ao mercado mais leviana. A estrutura liderada por Luís Filipe Vieira terá entendido que, perante um rival intervencionado pela UEFA e outro presidido por um megalómano incapaz de ser emocionalmente estável, não seria difícil chegar ao primeiro penta da nossa história. Nada mais falso!
Dado o fracasso da época anterior, a estrutura arregaçou as mangas e abriu os cordões à bolsa. E a verdade, é que chegado o fim do mercado do Verão passado, eu dizia que ninguém podia falar em desinvestimento nem apontar o dedo à estrutura do Benfica pela abordagem ao mercado. Afinal de contas, para além do clube não ter vendido nenhum jogador influente, ainda foi buscar jogadores com provas dadas. Contratou o melhor guarda-redes do campeonato grego, o melhor marcador do campeonato ucraniano, o segundo melhor marcador do campeonato mexicano, os dois melhores defesas centrais do campeonato argentino, etc. Teoricamente, este era um plantel que cumpria os requisitos e a minha principal dúvida, era se Rui Vitória tinha unhas para tocar aquela guitarra. Porém, uma coisa é construir um plantel; outra coisa é fazer um bom planeamento da temporada e foi aí que a estrutura voltou a falhar.
Antes de mais, o plantel começou a pagar o preço de sucessivas épocas com uma preparação física completamente amadora, e a equipa continuou a arrastar-se sob uma liderança que estava visivelmente gasta e que já não era suficiente para unir e erguer aquela equipa. Nessa altura, já achava há algum tempo que os jogadores tinham deixado de acreditar nas ideias de Rui Vitória e entendiam que era preciso mais do que ele para levar o Benfica ao sucesso. Os meus receios acabaram por se confirmar e ainda foram arrastados por uma maldita luz, mas se há males que vêm por bem, cada vez acredito mais que este foi um deles.
Da mesma forma que acho que sem aquele traumatizante final da época 2012/2013 não teríamos sido Tetracampeões, acredito que esta reviravolta na temporada seja o início (ou melhor, a continuação) de uma nova história bonita em Portugal, mas também na Europa. Tal e qual como o Ajax mostrou nesta Champions que é possível competir com os tubarões por um lugar ao sol na Europa. Mas para isso, é necessário que a estrutura tenha a noção de que não se pode focar apenas na formação e que também é preciso investir quando necessário. Da mesma forma que quando se perde não significa que esteja tudo mal, quando se ganha também não significa que está tudo bem. E há muita coisa a ser melhorada.
Muita tinta vai correr nos jornais com rumores de contratações e de vendas e muitas opiniões hão-de se espalhar nas redes sociais. Mas o que eu espero acima de tudo é que os adeptos sejam lúcidos e coerentes naquilo que querem para o Benfica. Por exemplo, se os benfiquistas querem que se dê prioridade aos miúdos do Seixal, não podem andar a pedir que o clube gaste milhões em reforços de classe mundial. A mim pessoalmente, uma lição que esta época me deu foi que nos dias de hoje o rótulo de “reforço de gabarito” ou de “Reforço que entre directamente no onze titular” está cada vez mais subjectivo. Da mesma forma que Castillo e Ferreyra eram excelentes reforços no papel e não acrescentaram nada à equipa, também já houve jogadores que chegaram ao Benfica como desconhecidos e que se tornaram em jogadores de alta roda do futebol europeu.
O que é necessário acima de tudo, são jogadores que tenham o perfil e as características necessárias para encaixar no modelo de jogo da equipa, independentemente do nome e do currículo. E há também que analisar se numa determinada posição, existe alguém da formação preparado para dar o salto ou se é necessário ir ao mercado procurar alguém com o mesmo perfil. Outra coisa de que todos têm que ter noção, é que apesar de haver constantes promessas de que o jogador a, b ou c só sai pelo valor da cláusula de rescisão, é inevitável que aconteçam vendas. Mesmo que não seja neste Verão, mais ano menos ano há de haver. E é aí que está uma das provas de fogo que Bruno Lage irá enfrentar nas épocas futuras: a capacidade de se reinventar e encontrar soluções a altura das perdas. Como tal, creio que este 37, para além de ser a reconquista, é uma oportunidade para crescer. É uma oportunidade para se redimirem dos erros das últimas épocas, de modo a colocarem o Sport Lisboa e Benfica onde ele merece.
▶️ Texto da autoria do benfiquista Tiago Serrano
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