Nascer nos anos setenta e começar a ver a bola a rolar nos asas do Liverpool do Rush ou do Benfica do Stromberg tem algumas vantagens.
Viver o Vietname nas bancadas de cimento da velha luz, sempre com 300 km para baixo e uma viagem tenebrosa para cima, foi uma experiência que nos catapulta para uma dimensão muito pouco humana do que é "ser do Benfica".
Ver o Salgueiros do Nandinho ganhar na luz ou o até o Boavista do Ayew são sensações traumáticas, mas nada se compara a Vigo - um marco na vida de um Benfiquista do Grande Porto.
Eu estive lá.
Tudo o que se seguiu foi fugir à realidade nos golos do Jardel, o outro, que não o nosso.
Que tempos aqueles!
Sofrimento em estado puro, mas Nós acreditavamos sempre!
Sempre!
E só era possível acreditar porque eu não via o Baía a dar mão fora da área ou, alguns anos depois, a tirar a bola de dentro da baliza Grande da Catedral.
Era a condição.
Acreditar sempre e ignorar o estado mafioso que os meus vizinhos tinham montado e acreditar!
E assim fui, um ano atrás do outro.
É verdade que tinham as melhores equipas, eram melhores, mas nem por isso deixavam de fazer uso de métodos menos simpáticos para esmagar a nossa incompetência.
E, dando um salto no tempo, viajei até aos dias de hoje e vejo um discurso dominante contra o Sport Lisboa e Benfica que até assusta.
Confesso que fico surpreendido todos os dias com o ódio que vejo.
Viver a norte e ser do Benfica é um desafio permanente. Há sempre o comentário, a boca, às vezes o insulto. Só há uma forma de resistir - não falar "de bola" com nenhum adversário, na medida em que para eles, somos inimigos.
O Sul. O império! A capital.
Como se as viagens do Benfica ao Bessa ou a Guimarães se tivessem tornado vencedoras apenas nos braços de quem chega de Lisboa.
Eles não sabem, nem tão pouco compreendem e daí o nosso silêncio.
Um silêncio longo de um deserto vivido com dor, agora interrompido para neste projeto trazer a voz de um sócio do BENFICA que vive no Topo Norte!
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