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Benfica Campus sem Rumo

Nos últimos anos é notória a aposta em jogadores da formação no Sport Lisboa e Benfica. Desde 2012 que todos os plantéis da equipa principal são constituídos por alguns jovens do Benfica Campus. No entanto, conseguimos contar pelos dedos das mãos aqueles que tiveram sucesso na equipa A. Porque é que a nossa formação demonstra, salvo certas exceções, que não está preparada para assumir a equipa principal? É necessário algum tempo para se compreender os processos necessários para a preparação e adaptação dos jovens, mas será que são precisos tantos anos para se perceber tantos erros e processos mal geridos?


Eu faço a distinção entre 3 tipos de ativos que foram (ou não) desenvolvidos no Benfica. Os que tinham tudo para ser apostas e não o foram – Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa, Fábio Cardoso – os que foram apostas e, até agora, não tiveram o rendimento esperado – Roderick Miranda, Miguel Vítor, Ferro, Gedson Fernandes, Florentino, Luís Martins, Bruno Varela, Ivan Cavaleiro, Rúben Pinto, João Teixeira, Nélson Oliveira, Nuno Santos, Yuri Ribeiro, Diogo Gonçalves, Zlobin, João Carvalho, Jota, Nuno Tavares, Tomás Tavares, João Ferreira, Tiago Dantas, David Tavares, Gonçalo Ramos – e os que conseguiram ter sucesso na equipa principal e, por consequência disso, acabaram por sair para outro clube – André Gomes, Lindelof, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Nélson Semedo, João Félix, Rúben Dias. É normal que o número de jovens que não foram bem-sucedidos seja maior em relação aos que foram, se todos conseguissem lá chegar e ser bem-sucedidos nenhuma equipa no mundo precisava de comprar jogadores. Aquilo que é anormal é a quantidade de jovens do Benfica Campus que não estavam prontos e foram lançados.


A maior parte destes jogadores subiram à equipa principal através de um processo demasiado rápido, o que fez com que o seu rendimento não fosse o esperado. Alguns subiram de juniores a sénior sem passar pela equipa B, outros passaram da Liga Revelação para a Liga dos Campeões e aqueles que passaram pela equipa B tinham poucos jogos realizados na mesma. Referindo as palavras do mister Renato Paiva: “Eles saem daqui e não jogam (…) porque eles não estavam preparados, não tiveram jogos suficientes de equipa B”. A verdade é que, cada vez mais, os jovens do Seixal chegam à equipa principal sem estarem prontos, sem a bagagem necessária para aguentarem a exigência que é jogar na equipa do Benfica. Contudo, o problema não começa só na passagem da equipa B para equipa A, mas sim nos escalões mais baixos. Cada vez mais queremos apressar os processos de formação de jogadores, cada vez mais existem iniciados a jogar nos juvenis, juvenis a jogar nos juniores e assim sucessivamente. É impressionante a quantidade de jovens de 17 e 18 anos que jogam na equipa de Sub-23. Pegando novamente nas palavras do mister Renato, quando se joga em qualquer escalão da formação do Benfica, os jogadores passam a maior parte do jogo a atacar. Apenas em jogos grandes é que são obrigados a defender mais tempo durante o jogo, ora se formos analisar o campeonato inteiro existem à volta de 10 jogos, incluindo fases finais, em que a equipa é obrigada a defender de uma maneira mais objetiva. Desta forma, a passagem pela equipa B e, consequentemente, pela Segunda Liga é de extrema importância para que os jovens aprendam rotinas e componentes do jogo semelhantes àquelas que vão encontrar na equipa principal. É impensável o Tomás Tavares ter feito 3 jogos na equipa B e fazer a sua estreia na Liga dos Campeões. É impensável o João Ferreira ter feito uma época na equipa B, onde nem sequer jogou metade dos jogos, e fazer o segundo jogo pela equipa principal na Liga Europa. Em novembro de 2011 o Benfica jogou contra o Basileia para a Liga dos Campeões e o defesa esquerdo titular foi Luís Martins, onde se estreou com a camisola principal. Para os menos recordados, o Luís passou de uma equipa de juniores para o palco da Champions. Para além de não serem bem preparados, são completamente lançados “às feras”.


Claro que é discutível o facto de existirem jogadores que brilharam e tinham poucos jogos de equipa B, claro que é discutível a falta de oportunidades ou nenhuma que alguns jogadores tiveram. Todas as questões são discutíveis, mas todas elas, a meu ver, têm justificações se analisarmos os casos em concreto. O André Gomes, o Renato Sanches e o Gonçalo Guedes tiveram os seus destaques no plantel principal, mas analisando determinados fatores da sua passagem pelo clube, conseguimos identificar algumas lacunas. O André Gomes, apesar da sua qualidade e maturidade, não era primeira opção e foi levado pela “novidade” de ser o primeiro do Seixal a mostrar realmente que tinha lugar na equipa e que podia valer alguns milhões. Na minha opinião, um jogador com um potencial tremendo, mas que teve um processo de preparação inacabado, visto que na altura a equipa B era um projeto recente e, por isso, não tinha o processo de formação e mentalidade que tem hoje. Já o Renato tornou-se titular indiscutível da equipa na época 2015/16, no entanto era o jogador que cometia mais erros por inexperiência, o que até nos custou alguns jogos. Subiu à equipa principal pela sua forma física monstruosa e ímpeto com que levava a equipa para a frente. Arrisco-me a dizer que era aquilo que faltava ao plantel para, juntamente com a qualidade e experiência dos que já lá estavam, conseguirmos a fantástica reviravolta no campeonato desse ano. Apesar dessa importância e de inclusive ter sido campeão da Europa, cometia demasiados erros defensivos e, principalmente, posicionais, fruto da inexperiência que tinha. A sua falta de preparação tornou-se evidente quando saiu do Bayern para o Swansea, onde o treinador era português e, mesmo assim, teve dificuldades em afirmar-se. O próprio Rúben Dias, que tinha mais de 50 jogos em contexto de Segunda Liga, cometia muitos erros e era criticado por isso. Apesar disso, notou-se claramente que era o mais bem preparado e que esses erros foram corrigidos ao longo das épocas que aqui esteve. Já o João Félix é um caso completamente à parte, é a exceção à regra. O João podia ter feito só um jogo pela equipa B porque é um prodígio e esse tipo de jogadores não precisam de muito para jogarem em qualquer equipa do mundo.


Para além da pressa e da falta de preparação, existe um fator fundamental para que os jogadores consigam estar à altura de jogar no Benfica. Tão importante como a preparação, são as referências do balneário. Qualquer jovem que chega do Benfica Campus, apesar de ser bem recebido por todos, precisa de sentir que ainda não é “ninguém” naquele balneário. Precisa de saber o seu lugar e ter a mentalidade de querer aprender com os mais velhos, aqueles que são os seus maiores ídolos e exemplos. É principalmente dentro do balneário que vão aprender o que é a mística, o que é correr e suar pela camisola do Benfica, o que é ganhar, o que é o Sport Lisboa e Benfica. Embora muitos não concordem, é um fator que pesa muito para qualquer jovem jogador. Chegar ao balneário e ver o Sr. Shéu, o Sr. Pietra, Jonas, Gaitán, Júlio César, Fejsa, Salvio, Samaris, Luisão, Garay, Enzo, Cardozo, Lima, Saviola, Aimar (e acho que não preciso de mencionar mais) mete respeito, faz tremer as pernas. Um jovem jogador que chega e vê como uma das maiores referências de balneário o Rúben Dias não consegue ter uma mentalidade diferente daquela que nos têm habituado. Apesar do benfiquista que é, de todo o respeito que tenho por ele e de achar que seria o próximo capitão do Benfica, o Rúben jogava com esses mesmos jovens há 2 ou 3 anos nos juniores. A mentalidade só pode ser de facilidade e descontração, ou seja, se um jogador que jogou comigo há 2 anos nos juniores já é referência aqui, isto é fácil. Outra questão é a quantidade de jovens que sobem à equipa principal, se todos os anos subirem 6 ou 7 jogadores a mensagem que passa também é de facilidade. Os jogadores não são máquinas, são pessoas e, tal como em todos nós, o psicológico é fundamental. A qualidade pouco importa se a mentalidade e o pensamento não estiverem bem, num jogador de futebol os pés contam 30% e o psicológico 70%. Com todo o respeito pelos jogadores que representam hoje o Sport Lisboa e Benfica, as referências perderam-se e isso é notório na integração e mentalidade da formação.


É fácil falar e criticar quando uma equipa está mal, quando não se ganha e as exibições são miseráveis. Qualquer jogador que venha da formação e chega a uma equipa nestas condições só pode ser um desastre. Já é difícil com a falta de preparação, se a equipa não está a jogar bem, torna-se quase impossível para um jovem ter sucesso. É importante perceber que todos os jogadores do Seixal bem-sucedidos jogaram em equipas avassaladoras, que praticavam um grande futebol, com boas prestações europeias e jogadores de outro nível. Não nos podemos esquecer que o Lindelof tinha o Luisão ao lado, o Nélson tinha o Salvio à frente, o André tinha o Matic ou o Enzo à sua volta e o Gonçalo e o Renato tinham o Nico, o Jonas, o Mitroglou e o Jiménez na frente de ataque. Com grandes equipas e com vitórias é muito mais fácil para qualquer jogador ter um bom rendimento, aliando esse fator à qualidade dos jovens é, efetivamente, quase impossível que não consigam ter um lugar na equipa. Com isto não estou a tirar o mérito aos jogadores, mas sim a criticar a possibilidade que foi dada a alguns, por jogarem com grandes referências e que foi retirada a outros. Como é que sabemos se o Florentino, o Gedson, o Tomás Tavares ou o Jota iam conseguir ter prestações melhores com equipas de outrora? Com outro balneário? Nunca vamos saber.


Aquilo que o Benfica nos transmite é que todos os anos faz uma seleção de 6 ou 7 jogadores para subirem à equipa A. Não interessa a sua formação, nem os processos que os levaram à equipa principal. É mais importante “queimar” jogadores com futuros promissores e que, eventualmente, poderiam vir a ser as nossas referências do futuro. É mais importante apressar os processos todos, desde os iniciados à equipa B, com a esperança de que algum há de gerar milhões o mais rapidamente possível. Aquilo que se tem feito a estes meninos é um crime. A má gestão das suas carreiras em prol do dinheiro que possam vir a representar e não daquilo que podem vir a dar ao clube em termos futebolísticos é vergonhoso. Enquanto a estratégia e o planeamento destes jogadores não mudar, muito dificilmente algum deles vai funcionar nos próximos anos. Os representantes do Sport Lisboa e Benfica têm de perceber que os “João Félix 120 milhões” não nascem todos os anos e que o mais importante é trabalhar o futuro do nosso clube, porque no fundo é o que estes jovens representam. Têm de perceber, de uma vez por todas, que a equipa do Sport Lisboa e Benfica não serve para experimentar e adaptar jovens para ver no que dá. A equipa precisa de jogadores prontos para envergar e dar tudo pelo manto sagrado, cientes da nossa dimensão e dos nossos valores. O Benfica precisa de jogadores que não sirvam de instrumentos com fins monetários. O Benfica precisa de jogadores à Benfica e eles podem estar cá, mas infelizmente não sei se o vamos descobrir a tempo. Precisamos de trabalhar os jovens do Seixal com paciência e não podemos torná-los a todos exceções que valem milhões.


Viva o Sport Lisboa e Benfica!


▶ Texto enviado pelo benfiquista Tiago Lourenço

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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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