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Cinco meses “jesuítas”

Atualizado: 28 de dez. de 2020

Os finais de ano costumam ser propícios para fazer balanços. Por isso, vamos lá falar de Jesus e do SLB.

1. Jesus é um bom treinador. Sabe passar a mensagem aos jogadores e coloca as suas equipas a jogar como ele quer em pouco tempo. Na sua primeira passagem pelo Benfica fez um bom trabalho e ajudou a devolver alguma grandeza ao clube. O Benfica deve-lhe muito e ele, se é o treinador que é hoje, também o deve, e muito, ao clube. Aquando do seu regresso, não fiquei entusiasmado porque me lembro do que ele disse quando saiu, e porque os regressos a sítios onde se foi feliz não costumam, salvo raras exceções, correr bem. Ao final destes 5 meses, comprova-se que o seu regresso, pelo menos para já, não está a resultar. Todos os envolvidos tinham/têm objetivos diferentes: LFV queria um treinador que colocasse a equipa nos eixos por causa das eleições e que o fizesse rapidamente (os primeiros jogos para o campeonato até correram bem); JJ ganhou tudo no Brasil e aquele país deixou de representar um desafio, e regressa ao Benfica porque quer usar o clube como porta de entrada para um grande campeonato europeu. Só assim se percebe que quisesse assinar apenas por um ano (!) e Vieira ofereceu-lhe quatro. Assinou por dois.

2. O clube gastou dinheiro como nunca esta época. Há um ano, o Seixal era a solução para tudo. Hoje, o Seixal não existe. Passámos do 8 para o 80 em meses, quando se deveria optar por um meio termo. O que é certo é que o Benfica tem um plantel, embora mais rico, com algumas lacunas (LD, posições 6 e 8). Jesus pensava que ia fazer uma figuraça na Champions com Cavani (tazonde?) e companhia, e acabou com Seferovic e a emprestar (leu bem, emprestar, não vender), o melhor marcador da época passada. No meio deste turbilhão, falhámos o acesso à Champions (grande baque para os objetivos do SLB e de JJ), a equipa está longe de jogar o triplo, parecendo manter os problemas do passado. Mesmo em 19/20, tivemos 7 pontos de avanço e tínhamos plantel para ter feito mais.

3. Na sua apresentação, Jesus disse que vinha para unir a família benfiquista: ainda não percebi se era em torno do clube ou em torno dele. É que este Jesus não é o mesmo de 2010: não parece ter a fome a garra dessa altura. Na gestão do jogo fora do campo, continua um desastre, com a bazófia que o caracteriza, mas desta vez com uma agravante - o Benfica não é rolo compressor. Aliás, é facilmente manietado por qualquer equipa com princípios de jogo definidos. Se era para isto, Lage fazia (muito) mais barato. Experimentem ouvir algumas conferências de imprensa dele no canal de Youtube do clube: há dias em que fala mais do Brasil e do Flamengo do que no Benfica. Além disso, Jesus insiste numa tática que não funciona há semanas, nem parece dar sinais de querer alterar. Outra das suas virtudes, é sacar o melhor dos jogadores: mas Luka, Adel e Darwin estão a jogar pior, por exemplo. Gilberto está melhor, mas também… O que parece (e eu digo parece porque ninguém nos explica nada, não sabemos que projeto há para o futebol do clube) é que todo o futebol do Benfica gira à volta da visão de Jesus e não é Jesus que se adapta (nem parece interessado em fazê-lo) ao que tem.

4. Jesus é o treinador certo para o Benfica? Neste momento, diria, claramente, que não. A não ser que decida, humildemente, arrepiar caminho e decidir fazer parte da solução em vez de fazer parte do problema, a sua continuidade tornar-se-á impossível. Na política há uma velha máxima que se pode aplicar ao futebol: “Não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão”. A oportunidade de Jesus já passou e duvido que tenha golpe de asa (ou sequer vontade) para inverter esta situação. O Benfica precisa de um “choque vitamínico” que só será possível, a curto prazo, com a mudança de treinador. Mas mudar para um treinador a sério, não para um Veríssimo da vida.

5. Jesus não é o único responsável, longe disso. Muito mais responsável é quem o foi buscar. Gastar quase 100 milhões de euros, num ano dominado pela pandemia, quando gigantes europeus estão a ficar com graves problemas financeiros, pode ser extremamente traiçoeiro para o futuro do clube. Esta poderia ser uma oportunidade interessante para reformular o futebol do clube de cima a baixo, com um Diretor Geral competente, experimentado e com “fome”. Sim, porque falta fome, falta garra, falta vontade de vencer. Falta Benfica ao Benfica. Esta malta enverga o manto sagrado e nem tem ideia do privilégio que isso é.


▶ Texto enviado pelo benfiquista Ricardo Cataluna.


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