Caros Membros dos Órgãos Sociais,
Caríssimos Consócios e Benfiquistas,
Tenho de começar sem meias palavras. O Benfica está doente e o que se tem passado nos últimos dias só mostra aquilo que andava a conseguir ser mascarado. Eu pergunto-me quem tenho à frente dos destinos do Benfica?
O Presidente que faz da sua maior bandeira a transparência e o benfiquismo sem igual ou aquele que ao mesmo tempo decide manter nos Órgãos Sociais e como seus colaboradores mais diretos aqueles que trabalharam diariamente com Luís Filipe Vieira? Começando pelos Órgãos Sociais, confia no Presidente do Conselho Fiscal de LFV, para emitir pareceres sobre as contas do Clube? Dá-me a entender que este CF aprovaria um Orçamento que pretendesse implementar as mais recentes medidas de modernização democrática oriundas da Coreia do Norte. E Sr. Presidente da Mesa, recorda-se que foi eleito para representar todos os sócios? Gosto quando o vejo na Europa a apoiar o Benfica, mas gostava ainda mais de saber por si e não pelo jornal Record quando se realiza uma Reunião Magna do Clube. É a Direção que decide que o Aursnes ou o Otamendi não estão mentalmente prontos para que se debata alterações estatutárias no Clube?
E por último, que papel têm os colaboradores mais próximos do Presidente? Porque é que o homem em quem mais deposita confiança é exatamente o mesmo de Luís Filipe Vieira. Chama-se Nuno Costa, felizmente a comunicação social começa a referir o seu nome, mas enquanto sócio não vou descansar enquanto o Sr. Presidente vier aqui explicar o que faz Nuno Costa no Benfica. O antigo chefe de gabinete de Luís Filipe Vieira e Isaltino Morais, que proibiu a entrada de sócios na apresentação do livro de João Malheiro no Estádio da Luz por já terem criticado o Presidente. Que foi responsável pela contratação de Nuno Custódio, seu amigo de longa data do PSD Oeiras e sem qualquer tipo de currículo para a área financeira, muito menos das modalidades. Sr. Nuno Costa, quer vir aqui acima enquanto sócios esclarecer-nos este processo? Este não é o meu Benfica popular e democrático antes do próprio país o ser. Um clube que era capaz de renovar a sua estrutura mesmo depois de ser campeão ou até campeão europeu, mas que era consciente da sua grandeza e sabia que era um clube demasiado grande para ser de um homem, ou das mesmas pessoas durante 20 anos, recordando que 2/3 dos órgãos sociais do Clube são figuras presentes na presidência de LFV. Estas sim são as verdadeiras elites que nos governam, que acreditam que mais ninguém é capaz de estar à frente do Benfica.
Tudo isto pode-nos fazer deixar de acreditar, mas um Benfiquista não se verga...
Porque sim, eu acredito num Benfica que joga as regras do jogo. Sim, eu acredito num Benfica onde os sócios não são um entrave para os Órgãos Sociais, mas sim o coração do Clube. Sim, eu acredito na nossa força, dos anónimos, aos que dão a cara, dos mais bem falantes, aos que preferem cantar. Sim, caros consócios, eu acredito num Benfica verdadeiramente interclassista e que honra a sua fundação. Sim, é possível acreditar num Benfica onde os seus dirigentes joguem primeiro pela dedicação e depois pelo dinheiro, nas palavras de Cosme Damião. Meus amigos, nós podemo-nos ter esquecido, mas o Benfica é muito mais do que o que tem sido. E para não ser acusado de falar de tempos desportivos que não são comparáveis, prefiro relembrar algumas posturas. O Benfica foi a classe de Borges Coutinho a ir cumprimentar a Junta de Salvação Nacional na sequência da Revolução. O Benfica foi o apoio aos jogadores da Académica de Coimbra, em plena luta estudantil no Jamor, em 1969. O Benfica foi o choro de Ferreira Bugalho na inauguração da velha Luz. E foi também Benfica quando não permitimos em Assembleia Geral que se acabassem com algumas modalidades. Onde vemos isto no Benfica atual? No fundo, somos mais Benfica quando estão lá os nossos valores, aqueles que sempre nos envaidecem a ouvir Luís Piçarra. Não tenham medo da nossa força democrática, nós sempre fomos enormes e temidos por isso mesmo. Somos diferentes, não queremos jogar com as regras dos outros, mas sim com as que nos distinguem. Por isso, quando nos tentam vender a visão única e limitativa dos últimos 20 anos, digam que não. Porque todos vocês aqui à minha frente, carregam o legado dos vossos pais e dos vossos avós. Pensem neles, no Benfica que vos deixaram, no que temos hoje em dia e no que queremos deixar. Da minha parte, não vou desistir enquanto não recuperar o Glorioso que o meu avô dizia não ter comparação. Agora tem e pelos piores motivos. Conto com vocês para fazer o mesmo.
E como celebramos os 50 anos do 25 de Abril, termino citando um grande Benfiquista, obreiro da Revolução, para que nos lembre a todos que há momentos onde temos de ter a coragem de mudar a história: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!”. Que os Benfiquistas tenham coragem de honrar a sua História, tal como Salgueiro Maia, onde a mudança e a vontade de se agigantar nos tempos mais difíceis sempre esteve presente.
Viva o Sport Lisboa e Benfica!
▶ Texto enviado pelo benfiquista Duarte Chastre
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NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontade
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soia.
Luís Vaz de Camões