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Inferno da Luz: desejo ou mito?

Acabado o derby com o Sporting do passado domingo, ficaram-me vários sabores amargos.

Primeiro e mais importante o resultado, de quem já muita gente falou.

Mas logo a seguir, o ambiente da Luz.


Nascido em 1990, a minha maior tristeza é nunca ter vivenciado a Antiga Catedral.

Tempos diferentes é certo, mas míticas são várias imagens de variadíssimos jogos, Derbies, Clássicos, Noites Europeias, onde de facto a Luz se transformava num Inferno, ajudava e muito a ganhar jogos e onde muitos tinham medo de jogar, até pelas célebres palavras do nosso Carlos Mozer.


A Nova Luz nasceu já com um handicap enorme: “substituir” talvez o maior símbolo do Benfiquismo é tarefa impossível.

Nada ou quase nada de místico existe na Nova Luz, ao contrário do que existia, fosse pela história da sua construção, pelos jogos e jogadores míticos que pelo antigo Estádio da Luz passaram.


Dito isto, eu acredito firmemente que quem faz o misticismo, quem faz os ambientes, quem faz o Estádio uma referência, que o torna um Inferno são os mesmos de sempre, nós, os adeptos.


Já na inauguração dos novos ecrãs e LEDs fiquei com um sabor agridoce na boca.

São bonitos, modernizam o Estádio, diferenciam-no, pelo menos a nível nacional.

Mas por outro lado simbolizam a vitória da artificialização do apoio, do final da responsabilização de todos e cada um de nós em fazer da Luz um Inferno, metendo esse ónus em jogos de luzes e músicas de discoteca.


No jogo com o Sporting foi ainda mais confrangedor. No derby eterno, num jogo importante, frente a um rival forte, comportamo-nos como se fosse um jogo com um Arouca desta vida, com todo o respeito pelo Arouca.


Senti-me realmente desanimado.

Entre as dezenas de vezes que me “mandaram” sentar para poderem ver o seu “teatro” refestelados nas cadeiras, as várias vezes que ouvi “mandarem” a polícia ir “buscar” os perigosos bandidos que abriram uma tocha, as milhentas pessoas a saírem ainda nem a placa dos descontos levantada, acho que fiquei quase tão deprimido como com o resultado do jogo.


Todos nós já vimos recentemente ambientes extraordinários de Benfiquismo, nas roulotes, na rotunda Cosme Damiāo, nos pavilhões. O que nos falta para esse Benfiquismo, essa paixão louca voltar ao Estádio da Luz, o mais importante dos locais?

Podemos pôr culpas, justas, num speaker que nunca deveria ter entrado no clube. Mas não chega, é curto.


Vários pensamentos me assolam, várias perguntas sem resposta me vêm à cabeça.

● É isto ainda resquícios do Vietname, onde uma certa geração perdeu a sua paixão pelo Grande Benfica e as novas não mais voltaram a beber dessa paixão?

● É isto resquícios de uma fase conturbada, com péssimos resultados desportivos e crise diretiva no passado recente?

● É isto fruto de um Benfica aburguesado, que se foca mais em vender merchandising e camisolas do que em fomentar paixão nos seus sócios?

● É isto fruto de nos termos tornado apoiantes de uma empresa, parte interessada apenas pelos produtos e serviços que oferece, em vez de sermos verdadeiros sócios, apaixonados por um clube e parte integrante da sua vida?

● Serão estes sinais dos tempos que vivemos, em que esperamos mais que façam por nós do que sermos nós a tomar iniciativa?

● É isto resultado de uma sociedade que mais e mais tende a olhar para uma paixão clubística como algo anormal ou em muitas circunstâncias um crime?


Tanto mais me passa pela cabeça. Mas a pergunta que mais me assola neste momento é a seguinte:

Neste momento, o Inferno da Luz, o qual poucas vezes vivi, é neste momento apenas um desejo meu ou já passou a ser um mito?


Não tenho resposta. Tenho pena de não ter resposta.

Seja qual resposta for, até outra que não contemplo, o sonho de voltar a viver Infernos da Luz em derbies, clássicos e noites europeias continua cá.

Viva o Benfica!


▶ Texto enviado pelo benfiquista João Santos.


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