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Nos idos de Agosto…

Em qualquer universo que obedeça às mais elementares regras da Democracia, como é o apanágio do associativismo, o período Eleitoral, seja ele em que moldes, regras ou períodos, deveria servir a todos os que integram esse associativismo como um período nobre e de excelência em que fazemos o balanço de um período no qual a atual gestão esteve em funções e exercemos o nosso direito de voto. Seja ele nessa gestão, numa alternativa a essa gestão ou num voto nulo ou em branco.


Tudo menos que isso é a negação do nosso direito como membros desse associativismo, ou, indo mais longe, cidadãos de determinado pais.

Sempre encarei esse direito como uma das pedras basilares da nossa sociedade. Seja ela Portugal ou o Sport Lisboa e Benfica. Abdicar dos mesmos é (e isto numa convicção pessoal sublinho) abdicar dessa pedra basilar.


O Sport Lisboa e Benfica, Clube, orgulha-se de ser tradicionalmente um Clube democrático, mesmo quando em Portugal não existia democracia. Ao contrário do que muitas vezes os nossos adversários tentam insinuar, o Benfica foi um Clube que desafiou os princípios dos regimes ditatoriais, nunca se vergando, lá está, e a abdicar dessa pedra basilar. Tão importante para o nosso Clube como as nossas Cores, o nosso Emblema ou o nosso Lema, curiosamente outos aspetos que nos últimos tempos têm sido discutidos (e na minha opinião, mal tratados) no universo Benfiquista.


Bem sei que os tempos mudam, e nós igualmente mudamos com eles, mas continuo a pertencer a uma franja, que honestamente penso refletir a maioria dos Sócios do Sport Lisboa e Benfica que encara esses 4 pilares como parte da entidade do Benfica, e que sem os quais não há Benfica: a Democracia, o Vermelho e Branco, o nosso Emblema e o nosso Lema (em Latim).

Não querendo lançar à discussão os três últimos (porque na verdade muitas vezes me parece uma discussão inócua entre o que deve ser e uma estilização de gosto duvidoso), gostaria somente falar das eleições do nosso Clube e no que estou a sentir neste período eleitoral.

Na vertente do balanço, e gostaria de começar por ai, há que colocar nos pratos da nossa balança o último mandato da Direcção em funções (liderada pelo nosso presidente Luis Filipe Vieira) sem, e tal é impossível, descurar todo o trabalho (bom trabalho) feito em mandatos anteriores e todo o capital histórico que o atual Presidente tem no nosso Clube. Retirar mérito ao trabalho positivo de Luis Filipe Vieira é igualmente uma negação do Benfiquismo (como um todo, não o do Presidente).


Existia um Benfica antes de Luis Filipe Vieira e outro após Luis Filipe Vieira. Isto é inegável, e a História do nossos Clube saberá julgar e colocar na galeria das figuras de destaque o atual presidente. Como deverá colocar Manuel Vilarinho que em conjunto com outros Benfiquistas (nos quais se inclui o candidato João Noronha Lopes) resgatou o Benfica a um dos consolados mais negros na sua História, não esquecendo no entanto (para os mais desatentos) que nem só Vale e Azevedo inventou todos os problemas do Benfica (esses já vinham bem de trás…) como também não poderemos esquecer que foi o apoio de Eusébio e uma falsa promessa de contratar Mário Jardel (como as coisas eram em 2000) que o levou a conquistar um valor próximo dos 60% que lhe deu a presidência do nosso Clube. Ou seja, mesmo após escândalos atrás de escândalos, patranhas atrás de patranhas, 40% dos votos dos Sócios ainda foram para João Vale e Azevedo. Além de isto nos dever interrogar, deverá igualmente fazer pensar no porquê desses 40%...

Adiante.


Tenho olhado para o recente período eleitoral do nosso Clube com muito interesse, mas ao mesmo tempo com alguma desilusão. Gostaria de assistir a uma discussão séria no seio dos Sócios do Sport Lisboa e Benfica. E o que tenho assistido é a uma balcanização entre os que defendem a todo o custo o atual Presidente (quando a meu ver os Presidentes não servem para ser defendidos…servem para defender os interesses do Clube) ou as candidaturas já assumidas (as que são, a meu ver, viáveis) : a de João Noronha Lopes e a de Rui Gomes da Silva (a de Francisco Benitez pouco conheço).


Existe ainda, como em qualquer combate eleitoral, uma franja mais radical que pura e simplesmente qualquer argumento serve ou para defender o atual presidente ou para querer a saída do mesmo. Ou seja, entre aqueles que não o querem fora a qualquer custo e aqueles que, a qualquer custo, o querem fora. Seja lá a alternativa qual for. Mas desses tenho tendência a fugir, porque não gosto muito de radicalismos.


De Rui Gomes da Silva o que vejo é um programa bem estruturado, com temas de elementar interesse mas com um handicap fortíssimo: ter sido membro integrante de uma estrutura e equipa que hoje renega e critica. Além disto, apresenta todo um capital de desconfiança para quem passa épocas inteiras a enviar recados através das redes socias ou blogs sem contribuir de forma mais construtiva para discussão do Benfica dos próximos anos.


No lado de João Noronha Lopes vejo o mesmo programa e valores que facilmente agradam aos Sócios do Sport Lisboa e Benfica. Apresentou-se de forma clara e com valores claros. Essa, aliada ao capital de seriedade e da capacidade de gestor que parece ter são obviamente, e a meu ver, trunfos fortíssimos, que nem a rábula dos Campeões Europeus pode ofuscar. No entanto, parece-me muito pouco, para já, para mudar o sentido de voto dos Sócios do Benfica que a meu ver, e enquanto escrevo este texto, deverá pender mais uma vez para uma vitória de Luis Filipe Vieira, de quem de todos os candidatos tem o caminho mais fácil.


Algo que não deveria ser assim tão fácil, e passo a explicar;

O último mandato não foi brilhante, longe disso. Tomou a decisão de não renovar o contrato de Jorge jesus (isto ainda no mandato anterior) e apostar em treinadores que encaixassem na politica desportiva preconizada: aposta na formação do Seixal. Se Rui Vitória venceu dois campeonatos e não deixou saudades ao universo Benfiquista (ao contrario do que disse o Presidente), já Bruno Lage passou de bestial a besta em poucos meses, como se alguém lhe tivesse descoberto o motivo dos super poderes (seria o Super Félix?) na primeira época (que evitou o regresso de Jesus após a aventura nas Arábias) e lhe tivesse roubado essa capacidade. Nem um nem outro seriam neste momento escolhas para qualquer Benfiquista em detrimento de Jorge Jesus, se estivermos simplesmente a analisar competências técnicas, ignorando o comportamento do atual treinador aquando da sua passagem por Alvalade. Comportamento esse que facilmente poderia ter sido desculpado com um ato de contrição na Benfica TV. Infelizmente não houve visão para tal, e Jorge Jesus entra aos comandos do Benfica com esse handicap. Que mais tarde poderá ser fatal…


Bem esteve Noronha Lopes num dos seus melhores soundbytes relativamente à questão do Treinador. Jorge Jesus poderia ser o seu treinador mas nunca o de LFV. De uma assentada matou o tema e despertou (ou deveria despertar) a consciência dos Sócios para mais uma prova cabal da velha máxima de Pimenta Machado (curiosamente presente na cerimónia de apresentação do novo velho treinador): No futebol o que hoje é verdade…amanhã é mentira.

Este é um exemplo das discussões que gostaria de assistir. Mas não existem. Enquanto os Candidatos por um lado lançam estas farpas (normais em período eleitoral) do outro lado existe apenas a tática do silêncio, utilizada até para as declarações de Bernardo Silva, figura querida dos Benfiquistas, numa manifestação (que é noticia) de desejo de debate eleitoral na Benfica TV. Pobre Bernardo. Uma manifestação de tão grande ingenuidade, quase comparável aqueles que asseguram que a sua saída por 15 Milhões de Euros deve ser unicamente imputada ao novo velho treinador.


Uma total ausência de autocritica que apenas me consegue transmitir uma total desconfiança por parte dos nossos Órgãos Sociais na vontade de esclarecimento dos Sócios. Entristece-me que um período destes, que mais uma vez deveria ser um ato nobre, esteja a ser completamente a ser ignorado ou até mal tratado pela estrutura do nosso Clube, que deveria (e tenho esperança que até Outubro o faça) dar mais do que isto para justificar a confiança dos Sócios. Aqueles a quem em última instância, o Benfica ainda pertence.


Esse capital de confiança tem e deve ser justificado, porque todos os sinais de aburguesamento que a estrutura do Benfica nos tem transmitido nos últimos anos não são bons, e culminar no envio de recados na apresentação do Treinador além de pobre é infeliz. Foi essa arrogância que nos fez perder um Penta e ressuscitar um adversário ligado à máquina em virtude do Doping financeiro a que recorreram para vencer campeonatos.


São sinais que nos deviam preocupar. Mais do que os nomes sonantes que a imprensa todos os dias nos vai alimentando com a velha receita do pão e circo. Urge aos candidatos à Direcção colocar este tema na agenda. Seja através de visitas a Casas e a núcleos de Benfiquistas, como através de entrevistas (nesse aspeto Noronha Lopes tem estado bem), como (e porventura sobretudo) a apresentação das suas equipas de gestão. Esse tema será fulcral para “obrigar” os Sócios a escolher. E cabe aos Sócios encarar toda e qualquer Candidatura da mesma forma.


Espero portanto por um período eleitoral de debate de ideias e visões. E espero igualmente que qualquer que seja o resultado final das mesmas, seja respeitado por todos os Sócios.

Tudo menos que isto é uma derrota do Sport Lisboa e Benfica, o Clube.


Texto enviado pelo benfiquista Ricardo Casaca, sócio do Sport Lisboa e Benfica desde 1992.

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