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O Benfica que eu idealizo


Antes de falar no assunto que me traz aqui novamente, há uma coisa que eu quero deixar bem claro: para mim, o Benfica estará sempre em primeiro lugar e quero acima de tudo que o Benfica ganhe. Por esse mesmo motivo, quis esperar pelo jogo contra o Standard Liège para falar sobre isto.


No entanto, isso não implica que eu tenha de fingir que estou satisfeito com o que vi na madrugada de quarta para quinta-feira. A decisão dos sócios é soberana, mas não me peçam para ficar indiferente ao facto de termos deitado para o lixo uma oportunidade de ouro para devolver o Benfica aos benfiquistas.


Porque eu não me revejo num Benfica que mostre total conformismo perante o insucesso desportivo, sobretudo a nível europeu, onde a falta de atitude competitiva mostrada nas últimas épocas espelha bem a falta de ambição da Direcção do clube. Não estou a insurgir-me contra a intenção de voto de ninguém. Cada um é livre de votar em quem quer. Mas existiram vários factores nestas eleições que não me deixam indiferente e que quero mencionar aqui.


O primeiro de todos esses factores é que, tal como já era temido por muitos sócios que desejavam mudança, a antiguidade fez a diferença na reeleição de Luís Filipe Vieira:



Luís Filipe Vieira foi o sócio mais votado em todas as categorias, mas nas categorias com mais peso, foi onde a diferença foi maior. Na categoria dos 50 votos, 65% dos sócios votaram em Luís Filipe Vieira, enquanto 61% dos sócios de 20 votos também votaram a favor da sua reeleição.


Estes resultados mostram que qualquer candidato que defronte Luís Filipe Vieira numas eleições partirá imediatamente em desvantagem, visto que a sua obra feita irá sempre pesar na mentalidade dos sócios e mudar essa mentalidade não será uma tarefa fácil, principalmente para um candidato que seja pouco conhecido pelo grande público.


Mas o que estes resultados mostram principalmente, é aquilo de que eu falei no texto que aqui escrevi há uma semana, de que o período de Manuel Damásio e João Vale e Azevedo marcou os benfiquistas de tal forma que os deixou que uma mudança nos tempos actuais os deixe com medo de um eventual regresso ao passado.


Pessoalmente, faz-me bastante confusão como adeptos mais velhos, que acompanharam o Benfica no seu período mais glorioso (décadas de 60,70 e 80), se conformam com um Benfica que perde dois campeonatos em três anos para um clube intervencionado pela UEFA e que tem vindo a ter sucessivas campanhas medíocres nas competições europeias.

Refiro-me sobretudo aos sócios mais velhos porque, sendo aqueles que acompanharam o Benfica nas décadas de maior glória, deveriam dar o exemplo a nível da transmissão da cultura de exigência e de ambição que sempre caracterizou o Benfica. Foi essa mesma cultura benfiquista que o meu avô me transmitiu e que acho que se foi perdendo após o período do Vietname.


Eu cresci a ver o Benfica a atravessar uma travessia no deserto no que a títulos diz respeito e quando o meu avô me contava histórias e me mostrava os livros que falavam sobre esse Benfica, a coisa que eu mais desejava naquele momento era poder viajar no tempo e ver esse Benfica ao vivo e a cores. Quando o Benfica se sagrou Tetracampeão nacional há três anos atrás, eu sentia que esse Benfica vencedor estava de volta e que tinha vindo para ficar. Afinal de contas, tinha acabado de ver algo que nem o meu pai nem o meu avô chegaram a ver. Os anos seguintes viriam a mostrar que estava redondamente enganado, mas já lá voltamos.


Em 1991, poucos meses antes de eu nascer, Laurent Mosset, jornalista na revista France Football, referiu-se ao Benfica da seguinte forma: “O Benfica é eterno. Eles não conhecem fenómenos de erosão que possam fazer perigar as suas fundações mais seguras. Eles sabem sempre renovar a sua imagem. O Benfica é uma lenda.


O que Laurent Mosset quis dizer com estas declarações é que com o passar dos anos e das gerações, o Benfica conseguia sempre renovar-se e a permanecer como um dos grandes clubes em Portugal e na Europa.


Se formos pegar noutros exemplos de clubes com uma dimensão à escala mundial, verificamos que clubes como o Manchester United e Liverpool já desceram de divisão. Já o FC Barcelona, nunca desceu de divisão, mas teve um período de sucessivas prestações irrelevantes a nível interno (entre 1965 e 1990, conquistou apenas dois campeonatos.


Ora, aquando destas declarações em 1991, o Benfica tinha 29 campeonatos conquistados, contra 16 do Sporting e 11 do FC Porto, ou seja, o Benfica tinha mais campeonatos conquistados do que os rivais juntos. Passados 29 anos até hoje, o FC Porto conquistou 18 dos campeonatos seguintes, 8 do Benfica.


Nos 17 anos de Luís Filipe Vieira como presidente do Benfica, conquistámos sete campeonatos e três Taças de Portugal, e vimos o FC Porto conquistar dez campeonatos, cinco Taças de Portugal e três títulos internacionais. Ou seja, Luís Filipe Vieira foi presidente do Benfica em mais de metade deste período em que o Benfica perdeu o domínio a nível nacional.


E eu até posso aceitar os dois primeiros campeonatos nos primeiros sete anos de Luís Filipe Vieira na presidência, visto que o clube ainda se estava a reerguer das cinzas e estava a iniciar o seu processo de recuperação a nível financeiro e estrutural, que é algo que não se concretiza de um ano para o outro.


No entanto, actualmente, Benfica e FC Porto encontram-se em situações praticamente opostas às de 2003. O Benfica encontra-se com uma pujança financeira que há muito não se via, enquanto o FC Porto anda com a corda ao pescoço, tendo acabado de registar um prejuízo superior a 100 milhões de euros.


É por isso que eu não me dou por satisfeito com os cinco campeonatos conquistados nos últimos sete ano. Nada nem ninguém me tira da cabeça que um Benfica que fosse realmente bem gerido desportivamente teria neste momento um histórico Heptacampeonato, um domínio idêntico aos da Juventus e do Bayern Munique nos respectivos campeonatos.


É este o Benfica que eu idealizo: um Benfica dominador em Portugal e capaz de se bater contra os clubes mais poderosos da Europa. Quero um Benfica que volte a ganhar mais do que os rivais juntos e que na Europa não seja humilhado pelos Basileias desta vida. Quero ver esse Benfica lendário que era um clube temido na Europa, o Benfica que o meu pai e o meu avô viram, mas sei que não é com esta Direcção que a lenda vai ressurgir.


Comigo foi assim durante muitos anos, mas não voltarei a permitir que os “fantasmas do Vietname” abalem os meus sonhos. Como já ouvi dizer, eu quero um Benfica que sonhe o mesmo sonho daqueles que não dormem por sua causa.


NOTA: A opinião aqui transmitida é da inteira responsabilidade do seu autor e não representa, necessariamente, a opinião do Benfica Independente.

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