Começo este texto a agradecer a João Noronha Lopes. A grandiosidade do que fez é, na minha óptica, algo que só perceberemos bem no futuro. O benfiquismo que dali emanava era contagiante. Cada grito de Paneira parecia um cruzamento perfeito. Quando falava Isaías acreditávamos que era um tiro certeiro. E quando falava ele, o presidente, sorriamos, ingénuos.
As eleições de ontem foram as mais concorridas de sempre do clube e isso tem servido para dizer que, apesar de tudo, o Benfica ganhou. Não ganhou.
O Benfica sai deste período eleitoral um clube pior mas mais cristalino. Se há coisa que pedem e estas eleições trouxeram é transparência. Percebemos hoje, de forma clara, quais os interesses que a BTV defende. Percebemos hoje que a Mesa da Assembleia Geral do clube, o mais importante órgão do mesmo, está ao serviço de um só sócio. Percebemos hoje que LFV podia “matar alguém na 5ª avenida” e ainda assim seria eleito.
O número de eleitores de ontem não mostrou um Benfica vivo. Mostrou um Benfica a antecipar o seu dia de finados. Nesse dia muitos deslocam-se aos cemitérios para junto dos seus entes queridos, já falecidos, depositar flores e preces. Ontem foi igual e as eleições não foram mais que a missa de corpo presente que antecede o velório. Ontem a Catedral foi Cemitério. Ontem o falecido foi o Benfica.
Dizem-me que ao menos a mobilização massiva e ter sentido que o seu mandato perigava vai fazer com que LFV acorde e nos traga vitórias. E eu digo-vos, tomara que sim mas é indiferente. Sendo eu um benfiquista do Norte nascido na década de 80, digo-vos que se fossem as vitórias a decidir o clube que apoio, esse não seria o Sport Lisboa e Benfica. Seria fácil para uma criança de 10 anos apoiar o clube que a 50km de sua casa tudo ganhava na década de 90 e 00. Mas não eram as vitórias que me interessavam. As vitórias são o fim. O que me fez escolher o Benfica era o meio.
E é assim que termino este texto. Hoje o Benfica tornou-se o clube que eu recusei apoiar na minha infância. O clube que tolera tudo desde que se ganhe. O clube onde urnas desaparecerem em carros civis, sem destino conhecido, é uma minudência. Onde o presidente eleito acaba o seu discurso de vitória bicando o rival.
Que as vitórias venham com um rasto de bolor atrás diz-me muito porque, la atrás, eu escolhi que não era isto que queria para mim.
Viva o Sport Lisboa e Benfica, o sonhado pelos seus fundadores.
▶ Texto enviado pela benfiquista Jorge Frias.
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