“Só é vencido quem desiste de lutar”
- João Tibério

- há 5 horas
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E nós, benfiquistas, não desistimos. Nunca desistimos.Não quando é difícil. Não quando parece impossível. Não quando nos querem convencer de que o destino já está traçado. Por isso, no dia 8 de novembro, vamos a jogo outra vez. Vamos para a segunda volta, não porque alguém nos ofereceu essa oportunidade, mas porque 85 mil sócios disseram que querem escolher o futuro do Benfica. É merecida, porque o Benfica é democracia, participação e paixão ativa. É legítima, porque esta campanha foi longa, extenuante, foi, acima de tudo, um gesto de dedicação e esclarecimento. E é necessária, porque ainda há muito a defender, muito a corrigir e muito a reconquistar no nosso clube.
Quem acha que isto termina aqui não percebe o que é o Benfica. O Benfica não é conformismo, não é silêncio, não é aceitar o que está feito só porque “é assim que tem sido”. O Benfica é um verbo, é contestação quando é preciso, é acreditar que pode ser melhor. E ter coragem para o provar.
João Noronha Lopes voltou a candidatar-se em 2025 e quase duplicou o número de votantes em relação ao último ato eleitoral que disputou. Isso é, claramente, um sinal positivo da vontade de mudança entre os sócios. Em paralelo, Rui Costa perdeu alguns votos relativamente a 2021, o que pode ser lido como uma ligeira crítica ao seu mandato. Será uma vontade clara de rutura? Não me parece. Mas é, sem dúvida, um sinal.
Tivemos ainda outras candidaturas que foram fundamentais para a vitória do associativismo que se celebrou ontem:
João Diogo Manteigas, exemplo do equilíbrio entre paixão e conhecimento;
João Ferreira Leite, mais uma demonstração da importância de Servir o Benfica na defesa da participação associativa.
São candidaturas que muitos classificaram como rutura — num sentido crítico —, mas eu chamar-lhes-ia antes de regresso ao passado, mas daquele passado e daquela história que nos fez grandes.
Houve ainda três candidaturas de natureza ou motivações bem distintas:
Martim Mayer, que quis honrar a sua tradição familiar;
Cristóvão Carvalho, que tentou cumprir o que lhe pediram, sem sucesso;
Filipe Vieira, que tentou adiar o encontro com a realidade e com a forma como a sua história será recordada.
Evitei grandes julgamentos de valor, mas todos temos as nossas opiniões. E é importante lembrar: a análise deve recair sobre as pessoas e os projetos, não sobre os sócios que votaram. Fiquei desiludido com a escolha da maioria? Sim. Estou habituado a não votar nos vencedores e, mesmo assim, nunca ousarei questionar a democracia? Claro. Estes são os resultados que refletem as ideias dos benfiquistas no dia 25 de outubro. Agora, a questão é: como mudar o estado a que chegámos?
Volto ao autor da frase inicial, Mário Soares. Há quem compare estas eleições do Benfica às presidenciais de 1986. Percebo porquê. Também agora existem dois blocos claros: rutura vs. continuidade, tal como existiram esquerda vs. direita. Tivemos figuras fortes dos dois lados: ontem Freitas do Amaral vs. Mário Soares; hoje Rui Costa vs. Noronha Lopes. E tivemos, na primeira volta, candidaturas que funcionaram como ponto de apoio — tal como Salgado Zenha e Lourdes Pintasilgo o foram para Mário Soares. Mas hoje, o desafio é outro: apenas os votantes de Manteigas são potencialmente transferíveis para Noronha Lopes e são insuficientes.
Mário Soares cresceu 100% entre a primeira e a segunda volta, quando o número total de votantes cresceu apenas 3,5%. Soube captar os eleitores das outras listas e beneficiou do chamado voto “cego”: “se for preciso, tapem a cara de Soares e votem com a outra mão”. Para João Noronha Lopes, o caminho é mais difícil, bem menos óbvio.
Não acredito que se bata o recorde de votantes. Muitos ficaram “batizados” — nem faltou a molha — com as longas filas fora do Estádio da Luz. A solução pode estar na outra metade dos sócios que não votou. Fácil? Não. Basta pedir que tapem os olhos e votem? Também não. É preciso, em apenas duas semanas, ouvir, compreender e responder ao desânimo, descrédito e desinteresse. Abolir esses prefixos.
Ao mesmo tempo, são urgentes mais banhos de benfiquismo fora de Lisboa. As visitas às Casas nestas semanas mostraram o que é viver o Benfica à distância. E é preciso mostrar mais respeito, mais compreensão e mais respostas para quem sente o clube longe. Ouvir, assimilar e apresentar soluções — ou procurá-las.
Lisboa vive no nome do Benfica, mas o Benfica é maior do que Lisboa. Fazemos um Estádio da Luz em qualquer canto do mundo, mas também precisamos de fazer sentir que há Minho, Luxemburgo ou Newark dentro de Lisboa. Isto é válido para a lista que apoio, deve ser reconhecido pela outra, e sobretudo cumprido por quem vencer.
O Sport Lisboa e Benfica é um clube incomparável. Estas eleições provam-no. E isso exige de nós um nível de responsabilidade imenso. Hoje, e no day after, temos de elevar o clube. Dar condições para que atletas e funcionários sejam os melhores, porque não basta sermos os maiores.
E volto ao início. Como disse originalmente Mário Soares e comentei com João Noronha Lopes: “Só é vencido quem desiste de lutar.” O João não vai desistir. E nós também não. Porque acreditamos no Benfica acima de tudo.





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