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30 anos de uma mão que não envelhece

Atualizado: 19 de abr. de 2020

18 de Abril de 1990.

Na minha cabeça, sei perfeitamente tudo aquilo que fiz nesse dia, onze anos antes de nascer. Como num dia normal de escola, levantei-me cedo, com a diferença de que pouco ou nada tinha dormido de tanto nervosismo e ao mesmo tempo excitação. Assim, numa mistura de sensações opostas e que me deixavam sobretudo pensativo, disse bom dia à minha mãe, que conhecendo-me melhor do que ninguém, sabia tão bem da importância daquele dia. Cruzei-me com o meu pai na cozinha e trocámos olhares, mas nem uma única palavra. Pairava ainda naquela casa a sombra de Estugarda dois anos antes e parecia, naquela manhã, que nada poderia correr bem.


No caminho para a escola, escolhia o onze na minha cabeça e simulava aquele que queria que fosse o discurso do Eriksson no balneário. As contas eram fáceis de se fazer. “Um golo e estamos em Viena”, lembro-me, como se fosse hoje, que foi aquilo que disse para mim mesmo antes de entrar na sala de aula. E todo o dia estive calado. Porque, muitas vezes, é o melhor a fazer quando não se sabe o que dizer. Tinha medo que qualquer palavra que pudesse dizer fosse atrapalhar as saídas do Silvino, a tranquilidade do Aldair, as arrancadas do Vítor Paneira ou a genialidade do Valdo. Por isso, assim fiquei, mesmo quando me juntei aos meus amigos à volta da Catedral, quando a hora do jogo se aproximava. Vivi, naquele dia, a maior demonstração de benfiquismo em toda a minha vida.


Já na companhia do meu pai, entrámos os dois juntos (como sempre) e subimos até ao nosso lugar cativo no 3º anel. Sempre calados. Falei a toda a gente à minha volta e dei o abraço mais apertado de que me recordo ao Sr. Joaquim, que na ingenuidade de um pequeno adolescente, tinha plena convicção de que vivia no Estádio da Luz, pois era ali o único sítio onde o via. Mas sempre sem falar.


O jogo finalmente começou. A Luz mostrou o porquê do inferno com a ajuda da magnífica campanha da direção: “Um Benfiquista, uma bandeira”. Sentia-se a apreensão dos franceses, que nem sabiam para onde haveriam de olhar, tal era o mar vermelho. Posso garantir, que até hoje, apagou-se da minha memória tudo aquilo que aconteceu desde o apito do árbitro belga até ao minuto 82. A minha memória traz-me até hoje a bola nas mãos do Valdo, com um estádio numa vontade inexplicável de explodir.


E a partir daí, tudo o que se passou é um poema, que nunca na vida poderá ser escrito. Quando a bola saiu dos pés de Valdo, ela já sorria e sabia que ia conhecer o sabor das redes. Antes disso, foi subtilmente acariciada por Magnusson e foi cair no seio da grande área e foi nesse momento que me levantei. Eu e mais 120 000 mil corações desesperados por uma alegria que só é alcançada por um golo do Benfica. “Toquei de peito e a bola entrou” disse o angolano, no final do jogo.


Como tu quiseres, Vata, porque quando entrou fizeste-me soltar um grito que tinha preso durante todo o dia e de que nunca mais me irei esquecer. São 30 anos de uma mão que envelhece. Fizeste-me ter esta história na minha cabeça, apesar de nem sequer existir, quando decidiste respeitar a história de um gigante e pô-lo no lugar que merecia.


Que possamos celebrar mais 30 anos deste dia mágico de Benfica e, preferencialmente, com mais idas a Viena como em 1990.


▶ Texto enviado pelo benfiquista Duarte Chastre.

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