Há quem "desista". Não os condeno. E até em certa medida os admiro. É um fenómeno que uma próxima Direcção não pode descurar. Acredito que seja possível resgatar esses benfiquistas. Admito que não desisti porque aprendi a viver com isto nos últimos 15 anos. E essencialmente porque ainda subsistem resquícios do Benfica. E porque sei que não estou sozinho e que há mais benfiquistas igualmente descontentes com o rumo em vigor. Porém considero que nunca estive tão desligado do Benfica como no presente.
Como posso defender valores e princípios na minha vida pessoal e profissional e quando toca ao Benfica assobiar para o lado? Andei anos da minha vida a dizer que ainda não havia democracia em Portugal mas que no Benfica havia. À cabeça, o hino oficial foi censurado pela Ditadura, entre inúmeras situações em que o Benfica foi severamente prejudicado por se revelar contra o regime.
Todos nós temos algo pra justificar o porquê de sermos benfiquistas. Seja por influência de pais, irmãos, tios ou padrinhos, por termos ido ver um jogo do Benfica e ficarmos deslumbrados com a grandeza sem fim do Benfica ou por rebeldia em ir contra os pais. No meu caso foi por intermédio do meu Pai. É graças a ele que sou sócio do Benfica.
Sendo eu natural do Porto e residente em Matosinhos, nascido em 1991, era muito fácil ter pendido para o clube que detinha a hegemonia nacional. Mas o meu Pai não facilitou. Ensinou-me o Benfica, fez-me conhecer a história do Glorioso. E explicou-me que o FCP ganhava mas de forma adulterada, representando o mal que a sociedade tinha. Ao passo que o Benfica representava o bem. Pra mim era simples justificar. Disse vezes sem conta que "sou do Benfica porque o Benfica é do bem".
Não sou do Benfica porque ganha. Sou do Benfica que está talhado para ganhar mais que os outros, do Benfica que ganha sistematicamente. Porque tenho noção da dimensão mundial do Benfica. Um Benfica bem gerido tem capacidade pra ombrear com os colossos. Porque o Benfica é um colosso. Não precisa de investimento externo. Precisa única e exclusivamente de ser bem gerido. Depois o povo do Benfica faz o resto.
Atualmente o meu registo é simples. Perder o menor tempo possível com o Benfica. Abstrair-me o máximo possível pelo menos pra manter a minha sanidade mental. Não gasto um neurónio a pensar no quão distante o Benfica está de si. Poderia estar aqui a enumerar centenas de itens com os quais não me revejo no Benfica. Está tudo tão claro que se torna ridículo isso. Somos o clube no mundo que mais dinheiro amealhou em vendas, com larga distância para o 2° classificado no ranking. E mesmo assim temos umas contas no limite da razoabilidade mínima. E são muitos os casos em que o nome do Benfica tem estado envolvido nos últimos anos, casos esses que nos devem envergonhar a todos sem excepção.
Sei que tenho uma visão demasiado romântica para os dias de hoje. Mas o que se verifica hoje é completamente o seu oposto. Um Benfica cada vez mais desfasado das suas origens. Um Benfica que tem como prioridade enriquecer quem o governa e quem acompanha os que o governam. Será pedir muito um equilíbrio entre um Benfica de 1904, 1906 e 1908 e um Benfica do século XXI?
Em suma, acho que não se desiste do Benfica em absoluto. Desiste-se do Benfica de 2003.
▶ Texto enviado pelo benfiquista Hugo Caseira
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