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O Princípio do Fim

O meu clube. Este é o meu clube. É o meu, é o teu, é o nosso. Fez-se do sonho, dos ideais, dos valores, da esperança, do querer e da ambição de muitos. Pois, este Benfica já não parece o meu. Este Benfica é uma mera calculadora nas mãos de um merceeiro mediano. Este Benfica festeja o valor a que compra e vende produtos, a que produz o tomate no quintal, enquanto celebra a construção de mais e mais salas para vender... produtos. Este Benfica esquece que nós somos um emblema, uma camisola berrante, somos o adepto que faz centenas de quilómetros para ver um jogo, somos o sócio que abdica de coisas para pagar as quotas. Este Benfica esquece que "de muitos, um" significa que a nossa grandeza resulta da nossa unidade. Este Benfica está dividido, destruído, desgraçado. Mas a culpa não é a da oposição interna, a responsabilidade está no poder.


A história do Sport Lisboa e Benfica é a história do povo. Já a história deste outro clube é a de homens que nunca ligaram ao futebol, de homens que veem a bola como um meio para chegar onde a sua competência nunca os levaria. Quer fosse a trabalhar no clube de uma cidade ribatejana ou no melhor clube do mundo, eu sei que Cosme Damião daria tudo. Eu sei que José Rosa Rodrigues daria tudo. Eu sei que Félix Bermudes daria tudo. Eu sei que Borges Coutinho daria tudo. Eu sei que temos uma história de presidentes, de diretores, de funcionários, de benfiquistas que deram sempre tudo. E é isso que eu peço, e é essa a exigência benfiquista.


Pergunto-me muitas vezes: Quando começou o fim? Qual foi aquele momento em que tudo mudou? Terá sido a final em Turim? Foi o desmantelar daquela equipa de excelentes jogadores? Foram as pessoas que criaram o conceito de estrutura mas não souberam dar-lhe corpo? Foram os jogadores que deixaram de evoluir tranquilamente (juniores, equipa B, plantel principal, onze do Benfica)? Foi a plastificação dos festejos criada por figuras que não percebem que não basta ter nome de farol para mexer com a Luz? Foram as camionetas e as roulottes empurradas para longe do estádio? Foram as eleições que se tornaram pró-forma e as Assembleias Gerais uma obrigação entediante para aqueles que deviam estar a representar o nosso clube? Foram os empurrões a antigos jogadores e referências do Benfica? Foi quando se alterou o emblema? Foi o medo dos erros de ontem que nos impedem de fazer algo melhor amanhã? Foi a soberba de achar que estamos 10 anos à frente sem perceber que o tempo não para? Foram os casos em tribunal e os outros que se arrastam na imprensa? Foi quando permitimos que o clube que teve eleições em ditadura seja hoje incapaz de ter umas eleições insuspeitas em democracia? Foi quando atacámos violentamente a idoneidade de quem propõe ajudar o clube? Foi quando se foi conivente com racistas que vestem a camisola do Benfica para ter visibilidade? Foi quando mudámos os estatutos? Foi quando se tornou habitual atacar os nossos jogadores nas redes sociais? Foi quando passamos a encher os bolsos a dirigentes enquanto os benfiquistas contam os trocos para pagar o bilhete para um jogo? Foi quando aceitámos que depois de uma derrota se receba uma mensagem publicitária ou uma newsletter escrita no mundo da Alice no País das Maravilhas? Foi quando nos perdemos a atacar quem votou em x ou y, percebendo que a partir do momento em que se vota, a responsabilidade é apenas e só de quem é eleito? Onde está o princípio do fim?


Acho que não tenho resposta às mil perguntas que me enchem a cabeça. Contudo, tenho uma certeza: o fim ainda não chegou. O Sport Lisboa e Benfica já passou por momentos igualmente preocupantes e soube sempre reerguer-se. E renasceu sempre da mesma forma: reinventando-se! Precisamos de acreditar no clube, nas pessoas, nos jogadores. Precisamos de acreditar que a história do Sport Lisboa e Benfica vai continuar a ser escrita pelos melhores. Se os governos caem, se as direções de associações abdicam, os sócios tem de fazer a sua parte e mostrar que este ciclo acabou. Está na hora de quem avançou nas últimas eleições volte a dar cara e recolha assinaturas para uma Assembleia Geral Extraordinária. O Benfica é nosso e tem de continuar a ser.

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